domingo, 28 de setembro de 2014

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Dificuldades na meditação

Hoje percebi que dividir dificuldades pode estimular pessoas a seguirem na prática. Aí vão, então:

- Várias vezes você vai num retiro ou fala com alguém e surge um macete e parece que você tava meditando errado, perdendo tempo etc. (Acho que não tava, tudo é uma lenta evolução, muito lenta mesmo). Muitas vezes essas dicas que dão são apenas variações de RELAXAR MAIS, inclusive. O que parece bem óbvio racionalmente, mas há uma distância entre entender racionalmente e executar na prática. Muitas vezes as “dicas” ajudam de maneira mais misteriosa. Por exemplo, o Gustavo Gitti me disse uma vez “relaxe também a face atrás da face” e a primeira meditação que fiz depois disso foi sensacional. Quando acabou eu tava com uma sensação de não saber direito quem eu era.

- Muitas pessoas dão dicas diferentes e você fica meio perdido. (Acho que todos estão meio perdidos no ocidente.) Quando acontecer, volte pro básico, apenas sentar em silêncio e imóvel por um período determinado. Isso se você não tiver um mestre (e apenas um), que é o mais aconselhável até dominar alguma técnica, pelo que li.

- A coluna dói, os joelhos dóem. Você muda a almofada, usa duas, segue doendo. Depois de um tempo, melhora, depois volta, não há uma estabilidade nem nisso. No início, da boca meio aberta você sente uma baba lentamente escorrendo e se sente ridículo. Isso melhorou. :) Mas não tem jeito, não tem nada estável. Passei meses em que achei uma posição da almofada encostada na parede que parou de doer a coluna até em períodos mais longos, mesmo sem tanto alongamento antes (minha coluna já é meio curvada e com quase 2 hérnias). Em retiros ou fora de casa não conseguia repetir a posição, mas em casa durou uns bons meses. Mas até isso eu perdi não sei porque.

- Você casa. A esposa passa a meditar junto contigo e isso requer adaptações. Você descasa. A falta da esposa meditando junto pesa. Isso também passa.

- Você vai meditar e pensa numa estratégia nova pro joguinho idiota e competitivo do celular mas aí se percebe fora do foco da prática e tenta sorrir por ter percebido isso e volta pra foco. Depois da meditação apaga o joguinho. Aí melhora isso de pensar em estratégias. Aí você meditando lembra que deveria estar fazendo dos obstáculos parte do caminho. E aí pensa: será que não deveria é jogar e verificar o tempo todo enquanto está jogando as alterações da respiração, da tensão em cada parte do corpo e tal? Aí você pensa que talvez seja melhor não gastar esse tempo de sua vida jogando algo que só irrita os outros quando você ataca, competitivamente. Parece uma distração da prática, parece o oposto de querer desenvolver compaixão. Já apaguei e instalei Clash of Clans umas 7 vezes. :)

- Isso de parecer gastar tempo fazendo algo errado é recorrente. Aí você sente falta de alguém pra orientar em cima, pessoalmente, com mais tempo. Notar a postura quando você medita, o que tem de errado, falar sobre a vida, o que tá vendo errado ao levantar da meditação etc.

- Com o tempo você vai percebendo mais sutilezas dentro da prática: Por que esses saltos desviando o olhar do foco? Por que essa respiração rápida agora? Pra que piscar? :)

- Você levanta da meditação e vai trabalhar (pisando em ovos) numa maldita empresa padrão que só contribui pra destruir o mundo com poluição, estimular o consumismo e concentrar a renda se aproveitando de trabalhadores mal remunerados? Achar um jeito de ajudar as pessoas daí ou largue esta porcaria para viver sem medo ou esperança. :) Vivo nesse dilema, mas praticando continuamente independente disso, tentando não deixar que atrapalhe minha prática e produzindo benefícios “apesar de”.

- Você acha que melhorou e está estável e aí briga e explode com alguém querido. Tudo bem. Faz parte do caminho fazer besteira, dar um passo atrás. Siga na prática.

Seja perseverante em qualquer caminho que você tenha entrado e esforce-se para manifestar algumas qualidades Comprometer-se com várias práticas sem treinar nenhuma não trará êxito. Compreenda o ponto essencial de comprometer-se ou afastar-se do caminho: comprometa-se com qualquer [caminho] no qual tenha experiência e afaste-se de outras práticas! Concentre-se de todo coração até estar estabelecida nessa prática. Você não pode buscar por um caminho mais alto sem depender daquele que está abaixo. Ao treinar dessa forma, que é como plantar sementes saudáveis em solo fértil, você ganhará experiência, verá a sua essência e progredirá. Em resumo, o treinamento intensivo é a base para o surgimento de qualidades. (Guru Rinpoche, Ensinamentos do mestre que nasceu do lótus, p. 125)