terça-feira, 24 de março de 2015

Relações, apego, família no Natal, meditação e cinco sabedorias - Lama Padma Samten (transcrição)

CEBB – Centro De Estudos Budistas Bodisatva
Relações, apego, família no Natal, meditação e cinco sabedorias
Lama Padma Samten
( Para o Ação Nalanda, mandala de transcrição do CEBB )


Local: São Paulo, dia 19 de dezembro de 2013
Transcrição: Ellen Meireles
Revisão: Fabio Rocha (2015)

[Foco na respiração – sem esperança e sem medo]
Eu queria iniciar comentando um tipo de meditação que pode ser muito interessante para introduzir um tema profundo e, muitas vezes, difícil de explicar. Eu recentemente vi um ensinamento do Mestre Dogen, o Genjōkōan, que é como se fosse o principal ensinamento do Mestre, que é o fundador do Soto Zen, e tem um comentário do Shunryu Suzuki, que é um grande Mestre Zen também. Eu achei aquele comentário tão interessante, aquilo tão curto e direto que eu queria trazer pra vocês. Esse é o início da minha abordagem do tema, eu não estou fugindo do tema. O nosso tema... Eu estava até perguntando pro Gustavo, se a gente tem que dizer que tem solução ou que não tem solução, não é? E o Gustavo disse: “É que não tem solução”. Foi a sugestão dele, então vocês já sabem aonde é que a coisa vai, né? (risos) Esse ensinamento é muito interessante, ele diz... Acho que todo mundo já fez prática de meditação focando na respiração... Aquilo, de um modo geral, é o início, todo mundo ouve... Só que, mesmo esse ensinamento, tão de início, pode ser utilizado como um ensinamento de topo.
Então... O Mestre Dogen, ele vai dizer pra você, que a única prática que você tem é inspirar e expirar, nada mais. É por que eles não gostam, especialmente no Zen, eles não gostam de primeiro expor um teoria pra depois a gente verificar. Mas aqui é o que eu faço, não é? Eu sempre exponho uma teoria e depois a gente vai olhando, então... Subvertendo o ensinamento, não é?
Antes de convidar vocês pra inspirar e expirar, eu vou falando da teoria, eu vou explicando tudo, eu vou estragando o ensinamento... (risos) Porque Koan não se pode explicar, mas aqui pode (risos). É muito interessante. Então, ele diz:
- Você, inspire e expire. Só isso. A prática da moralidade é inspirar e expirar. A prática da lucidez é inspirar e expirar.
A gente fica com uma cara, assim, meio estranha, né? (Lama inspira e expira). Aliás, a gente tem inspirado e expirado desde sempre e não tem acontecido nada, não é? (risos) Se é pra ter ainda alguma esperança... E ele vai dizer:
- Sem esperança e sem medo!
(risos) Bá, então eu não sei o que fazer mas, tudo bem, né? Só inspirar, não? Mas é que é muito interessante esse processo, a gente senta assim (Lama inspira e expira) e eventualmente você conta, né? Mas sem esperança. Chegar a um milhão também não é nada, é a mesma coisa. (risos) É melhor contar assim: um, (inspira e expira) um, um, um. (risos) Cada um é um, né? (risos) É só o um e pronto, né? Não é o dois, assim, né? (risos) Isso é super profundo, sabe? A gente diz: dois. Isso é uma fraude. Porque a primeira respiração é diferente da segunda, como é que a gente vai dizer dois, três?  Como se todos fossem iguais? Não é. Então é sempre um. (Lama inspira e expira) Mas aí é assim, a vida é...

[Foco na respiração – algo parado atemporal e inafetável]
Estão respirando, né? Aí lá pelas tantas, a pessoa descobre que esse inspirar e expirar é um movimento incessante, como o próprio Samsara, as coisas se movem incessantemente. Por outro lado tem algo parado que está além da respiração, que está além dos movimentos. É esse que é o ponto, e nós vamos descobrir isso, isso que está parado além do movimento.
Agora, se a gente levar um pouquinho adiante, vocês vão perceber, nós estamos olhando assim, pra frente. E vai ter quase como... A gente tem um campo visual, né? O campo visual é como se a gente estivesse inspirando e expirando, é a mesma coisa. O campo visual também se move o tempo todo, mas tem algo parado que está sempre parado não importa qual o campo visual, ele está lá.
Esse é o ponto mais importante. Quando a gente vai fazer uma prática de inspirar e expirar, o que nós estamos querendo encontrar é aquilo que não se move, além da inspiração e expiração. Se a gente olhar ao longo do tempo, aquilo que não se move também não envelhece, é não causal, ele não é produzido por alguma coisa que venha daqui pra lá, então aquilo aparece. Não. Não causal. Portanto, não temporal. Portanto, não afetável pelas circunstâncias. Então, isso é super importante.  E esse é o primeiro ponto, né?
Nós precisamos ter um pouco dessa inspiração e expiração pra poder depois lidar com desejos e apegos e circunstâncias todas do cotidiano. Se a gente, por exemplo, lidar com desejos e apegos no meio dos desejos e apegos, respondendo de forma automática no meio de tudo isso, nós vamos ter um tipo de raciocínio, um tipo de visão. Se nós contemplarmos os desejos e apegos e as flutuações todas a partir desse ponto estável, isso é muito diferente.
É parecido assim, por exemplo, vocês estão numa crise... Eventualmente pode acontecer, pra um ou outro, né? (risos) Uma crise... Aí vocês perguntam: “E as estrelas lá em cima, o que elas diriam da minha crise?” Aí aquilo, dá um distanciamento, né? É um nada, né? É um nada.
Outro dia eu recebi um e-mail, também de um praticante, e ele dizia. Eu já não lembro bem dos nomes mas: “Se a terra é um centímetro, o sol é um metro. E agora descobriram uma estrela que é 2,5 quilômetros, a proporção, né?” E a gente pergunta: “E essa estrela, o que diria dos meus problemas?” Uma coisa assim, né? Aquilo é um nada, né? Mas quando nós estamos dentro desse universo que está se movendo e nós estamos reagindo dentro daquela bolha de realidade, aquilo faz um enorme sentido.

[Cinema]
Que é uma coisa muito parecida com a gente ir ao cinema e entrar no filme, a gente começar a reagir a partir das imagens e dos sons. Nós entramos num tipo de bolha de realidade e a gente tem emoções... Os homens não choram, mas as mulheres às vezes até choram nos filmes... (risos)
Aí a pessoa se emociona com aquilo, e às vezes ela sai do cinema ainda na bolha do filme. Ela olha todas as mulheres como seres terríveis, por exemplo... Pode acontecer assim. Aí a pessoa está presa dentro de uma bolha de realidade, ela não percebe isso, ela não tem a capacidade de retornar ao ponto estável e olhar com lucidez o que está acontecendo. Lucidez significa olhar de forma não causal, de forma livre. É construção, é ver como tudo aquilo se estabelece.
Então, eu achei muito interessante essa descrição do Mestre Dogen, essa profundidade de uma meditação super simples, e é a primeira, né? Você senta e (Lama inspira e expira)... Aliás, não precisa nem dizer: “Respire!” É sente, apenas. Respirar vem, né?

[Bolha, Namoro e Apego]
Então aqui, por exemplo, quando nós estamos olhando desejo e apego de um modo geral, não estamos nos referindo àquilo que acontece dentro das bolhas de realidade, aquilo fica muito denso. Essa noção de bolha eu acho muito útil, porque nós podemos perceber que nossos desejos e apegos, eles também flutuam, né? Isso é incrível, a gente tem, eu acho que todo mundo... Eu não sei se alguém teve mais de um namorado ou namorada... Todo mundo tem essa experiência... Todos que tiveram essa aventura ou desventura, né?  Já viram o que significa apego, né? Aquilo fica super apegado, né? “O que aquele ser estaria fazendo agora?” “Aqui está silencioso, faz meia hora que ele não telefona para mim...” “O que ele estaria fazendo, né?” (risos) Agora com esses celulares que a gente pode rastrear onde é que está a pessoa, né?  A gente vai lá e dá uma olhada assim: Onde é que anda o ser, né? (risos) E dependendo de quem for a gente pode ativar isso sem que a pessoa saiba, né? (risos) E aquilo fica mais interessante, a gente pega o celular do outro e a gente ativa aquilo e: “Onde é que você andou hoje? E a gente fica olhando assim...” (Lama olha pra mão “segurando um celular”) “Onde está você?” “Ah... Eu estou na casa da minha mãe...” (Lama olha pra mão “segurando um celular”) “Com certeza, sua mãe agora está morando em outro bairro, né?” (risos)
Mas aí tem essa dimensão de desejo e apego muito intenso, né? É muito interessante isso, porque passa um tempo, pode ser que devido às circunstâncias da vida, a pessoa não queira nem saber o que está acontecendo com o outro, né? É assim. E como explicar? O outro deixou de ser? O quê que aconteceu? Aquilo, os genes estão iguais… Se tirar uma fotografia, tá tudo igual. Por alguma razão a gente já não tem aquela conexão.
Então, o desejo e apego necessitam de uma bolha de realidade. O Budismo trabalha muito com isso; quando a gente está recitando o mantra do Sutra do Coração: Gate Gate Paragate Parasamgate Bodhi Svaha, está lembrando isso, né? Ou seja, lembrando como as realidades se configuram.
O meu Mestre, Chagdud Tulku Rinpoche,  dizia: É mais fácil nós entendermos a vacuidade na forma do que na negação da forma. Quando nós olhamos as bolhas de realidade, elas dando sentido pras nossas emoções, pro nosso raciocínio, pras nossas decisões, pro nosso sofrimento, pras nossas alegrias, a gente vê que aquilo se estabelece, depois flutua e pode perder o sentido. Então, se nós avaliarmos como aquilo se estabelece, a gente vê que aquilo se estabelece a partir de uma bolha de realidade que surge e nós operamos com isso.
A gente pode até em diferentes partes do dia ter diferentes tipos de desejos e apegos, né? Por exemplo, a pessoa tem uma vida familiar e quando vai pro trabalho, a pessoa tem outras regiões de desejo e apego ligados ao trabalho. Ela tem outros conflitos. Quando a pessoa tá em casa, as aflições do trabalho talvez penetrem, talvez não penetrem. A pessoa precisa trocar de contexto, ou seja, trocar de paisagem, trocar de bolha de realidade, pra aquilo tudo funcionar. Não se trata simplesmente de algo da mente, não é um raciocínio. É um envoltório que dá significado aos nossos raciocínios, às nossas emoções. É um envoltório que não precisa estar consciente, ele opera sem a necessidade de estar consciente, é uma bolha de realidade. Como os cientistas, ou como nós no cotidiano...
Eu gosto desse exemplo, é um exemplo já antigo, né? A gente olha pro sol e imagina que o sol se levanta e se põe, que se levante a leste e se põe a oeste. Isso é uma bolha de realidade. A gente vê com os olhos, né? É como também, a gente olhando riscos e vendo cubos, olhando riscos e vendo pessoas. Isso na arte é muito interessante. Tem esse livro, desenhando com o lado direito do cérebro, ele trabalha com essa questão, ou seja, como que nós podemos melhorar muito o nosso desenho se a gente olhar o desenho e não as imagens internas que brotam quando nós desenhamos. Quando a gente vai fazer um desenho é melhor olhar o risco que está ali, o risco, a sombra, as cores, as formas... Mas nós não olhamos isso, a gente vê as pessoas, as árvores, as paisagens... Aí nós não conseguimos desenhar direito porque nós misturamos o que nós estamos vendo com imagens internas. Então se vocês quiserem, por exemplo, fazer um teste disso, ver isso acontecendo, vocês experimentem olhar uma imagem e tentar reproduzir as cores, as formas, como aquilo está.
Tem um exercício interessante que é botar a imagem de ponta cabeça, porque a gente não vê direito, não consegue associar direito o mundo interno com aquilo, né? Aquilo fica meio assim (Lama faz careta). Então depois a gente tenta reproduzir os riscos, as sombras, as cores, as formas que a gente tá vendo. Aí depois vocês viram (ao contrário, pois estava de ponta cabeça) e vocês vão se admirar que vocês tão desenhando super bem. Simplesmente porque nós somos capazes de reproduzir os círculos, as formas, os riscos, as cores e as sombras, nós somos capazes de fazer isso, mas não quando a gente não consegue ver isso. Por exemplo, você olha para o rosto de uma pessoa querida, olha para o rosto de um filho, a gente não vê sombras, riscos, proporções, formas, a gente não vê nada disso. A gente vê alguma coisa reagindo dentro de nós. Então, essas são as estruturas, o que acontece. Agora, se a gente coloca, inspira e expira, inspira e expira, está dentro dessa região livre, então mais facilmente podemos olhar os riscos e reproduzir os riscos. Aí, depois a gente vira e vai descobrir que a gente aprendeu a desenhar. Repentinamente, né? Aí quando vocês chegarem em casa, vão perguntar:
- O que o Lama falou hoje?
- O Lama ensinou a desenhar, (risos) olha aqui ó! (Lama mostra desenho invisível na palma da mão). (risos)
- Mas como é que ele fez? Ele pegou papel, lápis...
- Não, não. Ele só explicou.
- Só explicou e funcionou?
Então é a questão do olhar, né? Como olhar, como ver. Se a gente consegue ver melhor, a gente consegue funcionar melhor. Tem esses exemplos interessantes que conectam com esses mundos internos, então nós temos essas bolhas de realidade, mesmo que a gente vá olhar um desenho, vai olhar uma imagem, uma foto, a gente não vê o que tá ali. A gente vê tudo misturado com esse mundo interno.

[Meditação como liberdade das bolhas]
Por isso é super importante a prática da meditação, como um aspecto de liberdade, nós trabalhamos  com essa liberdade. Também com relação às coisas que a gente precisa fazer, o movimento da nossa vida, é muito útil que a gente pratique a meditação em silêncio, no qual nós temos esse espaço de liberdade. Quando vocês estiverem diante de situações difíceis, vocês pratiquem isso... Nós sentamos desse modo, olhamos aquilo a partir dessa liberdade, aí outras ideias virão; vocês vão imediatamente lembrar que - enquanto vocês estavam envolvidos naquilo diretamente - as ideias eram muito limitadas. Agora, quando vocês recuam, vocês tem outras imagens. Isso é super importante.
Agora, eu aconselharia até que vocês fizessem esse exercício especialmente quando as coisas estiverem indo bem, porque quando as coisas estão indo bem, não quer dizer que elas estão indo bem. Pode ser que elas pareçam que estão indo bem... De modo geral a gente entra nos piores lugares quando as coisas parecem que estão indo bem. Porque, por exemplo, se vocês estão diante de alguma coisa que diz: “Cuidado, perigo! Aqui é a região de problema!“ Aí vocês param. Mas as coisas que nos enganam elas tem uma outra placa na frente, é assim: “Felicidade ilimitada! Você encontrou o Ser Maravilhoso!” Né? É assim: “Sou eu!” Alguma coisa assim, aquilo está ali, aí está tudo funcionando bem... Então, essa é a hora do perigo. Aí vocês parem e deem uma olhada. Eu não quero deixar ninguém desconfiado.. Não quero criar nada. (risos) Também, aí de noite vocês façam o teste, às duas da manhã vocês sentam, aí dão uma olhada. (Lama olha pro lado) Aí inspiram e expiram serenos, recuem pra esse lugar que está no infinito, e deem uma olhada no ser. Aí vocês vão ver a finitude do ser. Se aquilo resistir... Aí, estamos indo bem. (risos)

[Energias que nos movem]
Então, esse é o ponto, né? Quando vocês forem comprar alguma coisa... Eu acho maravilhoso, agora, época de natal, vocês vão ao shopping, chegam na vitrine e: “Oh! Que bom!” Aí, façam o exercício: “Oh, não... Aí correm pra lá.” (pra longe) (risos) Vocês vão agradecer ao Lama, (risos) a conta bancária vai, ó (Lama faz gesto de “subir” com a mão) (risos). Meditação é ótimo, não gasta nada. Agora, desde esse ponto silencioso, aí vocês começam a observar como é que os objetos se relacionam conosco ou como é que a gente se relaciona com os objetos. De qualquer nível, objetos abstratos, concretos... De modo geral, o que acontece é o que está descrito na Roda da Vida, bem no centro, no coração da Roda da Vida. No coração do Prajnaparamita tem o coração da Roda da Vida, aí eles se conectam. E o coração da Roda da Vida é o fato de que operamos dentro de uma bolha e essa bolha se estabelece devido ao fato de que os objetos, eles não são conceitos, eles são energias que nos movem. Os objetos - sejam eles quais forem... Ou as aparências.
Hoje nós olhamos alguma coisa, por exemplo, se nós olhamos uma paisagem, a gente não tá vendo os riscos, as formas, as cores, nós estamos vendo as emoções que surgem em nós. Quando a gente olha uma foto de alguém querido, ou até mesmo do chefe - que não é querido, no caso. (risos) A gente olha a foto de alguém, nós não estamos olhando os riscos, as sombras, nós estamos olhando o conteúdo interno que brota. E esse conteúdo interno, se ele faz nosso olho brilhar, ele faz brotar uma energia em nós e nós dizemos: “Eu gosto dessa pessoa.” Se, por exemplo, depois de um tempo a gente olha pra pessoa e lembra que não pagou a pensão do mês, aí a energia é outra. Mas a foto é a mesma, a foto vem desde momentos anteriores, aquela foto foi usada de muitos modos, agora ela tá ali pra gente lembrar das coisas perigosas da vida (risos). Nós estamos olhando aquela foto, qual é o conteúdo? O conteúdo, ele está ligado à emoção... O conteúdo mesmo da foto pode mudar. É incrível isso, né? A gente pode olhar pra uma foto e dizer: “Que ser maravilhoso!” Passa um tempo a gente olha pra mesma foto: “Eu não sei como eu achei esse ser lindo, maravilhoso. Eu não sei como... Isso foi um engano!” Por que? Porque a gente não olha a forma, a gente olha a emoção, olha o brilho que brota em nós, isso é o que acontece. E nós olhamos e aspiramos que o brilho esteja presente, então a sensação de felicidade, a sensação de bem-estar, ela está ligada com esse processo interno. Aí nós, nesse momento, no Samsara especialmente, nesse momento especial do Samsara como ele está desenhado hoje, nós temos uma conexão muito especial com essa experiência de olhar pras coisas e manifestar energia. Nós estamos muito dependentes disso.
Nós passamos muito tempo das nossas vidas organizando coisas, ou adquirindo coisas, ou colocando coisas perto de tal modo que elas façam nosso olho brilhar. Então o Samsara tem esse software, é assim que opera a nossa mente. Agora, pra gente descobrir isso a gente tem que acordar às duas da manhã (Lama faz careta de que está acordando) a gente no meio do sono, no meio do sonho... A gente acorda e começa a olhar o significado das coisas, ou então, meditar mesmo. Ver o quê que acontece quando a gente olha pras coisas, qual o sentido que as coisas ganham pra nós, como é que elas funcionam dentro, porque é que nós temos essa conexão ou não temos a conexão, aí nós vamos ver o sentido da palavra energia, a energia que nos move.
Essa palavra é justa porque ela impulsiona nossa ação. Aquilo que a gente acha favorável, a gente tem um impulso em direção aquilo, se nós não temos uma relação favorável a gente tem uma reação. Isso no budismo é chamado de Vedana. A gente tem essa conexão, ela não é uma conexão verbal, conceitual, é uma conexão de energia.

[12 elos]
Então, de um modo geral, as nossas vidas são um esforço incessante de nos aproximarmos daquilo que movimenta energia e nos afastarmos daquilo que nos afeta (negativamente). Isso daí está bem estruturado, bem explicado no conjunto de ensinamentos que o Buda deu logo depois da iluminação dele, ele percebeu isso. Isso é chamado dos 12 Elos da Originação Dependente.
Ele explica isso. Nós olhamos pros objetos e não é o conceito, é o movimento que aquilo produz, ele produz atração ou aversão. Na sequência, baseado nesse movimento, nós tomamos decisões, aí surge desejo e apego. Aquilo que produz essa energia nós queremos. O que não produz, nós rejeitamos. O que produz energia contrária nós rejeitamos.

[Insatisfatoriedade]
E nós estamos presos dentro disso, agora o Buda percebeu, desde esse estado livre, ele olhou pras coisas e ele viu, por exemplo, que num certo momento nós podemos ter uma conexão com algumas coisas, mas essa conexão é insatisfatória. Ela tem uma insatisfatoriedade dentro. Significa o quê? Que por um tempo nós temos essa conexão, pode ser que mais adiante aquilo se desgaste. É como alguém que colocou papel de parede na casa, ou numa parede da casa. Daqui a pouco a pessoa não está mais aguentando aquele papel  de parede. Ou uma pessoa que botou um quadro na sala. Daqui a pouco a pessoa não está mais aguentando aquele quadro.
Eu me lembro, meu pai tinha uma fotografia do Stalin na parede (risos) aquilo era uma fotografia super interessante porque eu, criança, chegava, olhava pra ele e ele estava olhando pra mim. Eu ia caminhando e ele continuava olhando pra mim, eu entrava pela outra porta, ele continuava olhando pra mim, eu achava ele meio... Ele sabia todos os meus pensamentos! Sabia que eu não estava com bons pensamentos! (risos) Então, tem coisas que a gente coloca e depois tira, né? (risos) Isso é insatisfatoriedade. Na vida, inevitavelmente nós temos isso.
Eu acho bonito, tem muitos exemplos. A pessoa passa no vestibular e depois de seis meses abandona o curso. Tem situações mais graves: a pessoa termina medicina e faz o estágio final, como chama? Residência, não é? Aí desiste daquilo. Então, essas coisas são graves, super graves. Coisa de insatisfatoriedade. Hoje eu não estou, como vocês veem, pensando na coisa das relações de casal, né? Mas é tudo a mesma coisa.  Aí a pessoa tem uma esposa... E, aliás, lutou duramente pra ter essa esposa. E a insatisfatoriedade - grrrrrrrr (Lama faz gesto de cortar o pescoço com a mão) - pode afetar isso. Lá pelas tantas, a pessoa pensa que o problema é justamente aquele ser. Isso acontece, mesmo pra budistas... (risos) Insatisfatoriedade.

[Impermanência]
Se fosse só isso, né? Mas aí tem: Impermanência! Aquele Ser maravilhoso é impermanente. Melhor entender isso. Melhor entender: os seres vem e vão.
A melhor história que eu conheço disso eu já contei também, mas essa história é tão boa, é assim: Eles eram… Ele era artista. Eu não me lembro o nome deles, não me lembro quem eram eles, mas, eram dois amigos e um deles tinha uma esposa, muito linda. É que a esposa, já que eles eram muito amigos, se transferiu de amigo (risos). Aí aquilo não ficou bem, né? (risos) Não ficou direito aquilo, né? (risos) Aí o outro amigo não sabia o que fazer porque ele tinha perdido a esposa e o amigo, e aquilo ficou mal… Aí, teve um dia em que ele bateu lá na porta deles. Quando apareceu o ex-amigo, ele puxou uma arma e pá! Era uma arma de água: pffff (Lama faz barulho de esguicho), ele pfff! E outro levou aquele susto, né? Aí eles ficaram amigos de novo ali. Ele perdeu só a esposa. (risos) Então, é interessante isso... Aí, muda a bolha. Aquilo mudou, né?
Então é um aspecto... A realidade tem esse teor… Lá no Sul diriam: dois amigos nunca brigariam por causa de uma mulher, né? Mas eu acho que brigariam sim. (risos) Abre o jornal e tá todo mundo se matando por isso... Mas tem esse aspecto, a gente poderia dizer que quem respirar um certo numero de vezes não vai matar o outro. A pessoa respira e entende esse espaço. Ela olha e ela não tem essa conexão, nela não vai brotar esse tipo de perturbação.

[Sofrimento e lucidez]
Aqui nós temos a impermanência, a insatisfatoriedade, mas aí há um terceiro aspecto que o Buda descreve que é o sofrimento. Então, a arte do sofrimento é vasta. Ou seja, conexões que a gente desenvolveu. E essas conexões foram por desejo e apego. E elas produziram sofrimento. Isso é inevitável, nós temos muitos exemplos disso. No entanto, nós podemos também sair disso desde que a gente use essa consciência estável.
Nós não precisamos ter aquele sofrimento. O sofrimento se dá quando nós estamos imersos naquela bolha de realidade. Então, o Samsara, ele é justamente essa imersão num conjunto de significados que movem a energia e eles não vem como raciocínio, eles surgem como imagens diante de nós. O exemplo mais claro das imagens é justamente esse que vem do desenho mesmo, né? Como um cubo, que a gente risca e vê um cubo, em 3D. Desenha em 2D, em duas dimensões e o cubo tá em 3D. Esse desenho do cubo é muito interessante, porque é 3D. O quadrado da frente não está no mesmo plano que o quadrado do fundo, aí a gente pode perguntar: agora deixa eu olhar bem... Eu estou olhando. Será que é o quadrado da frente que está no papel ou é o quadrado de trás que está no papel? A gente não consegue localizar, porque quando a gente vê o cubo, a gente perde o papel, perde o plano. Aquilo acontece nos nossos olhos. Então vocês veem que nós temos a capacidade de introduzir uma terceira dimensão nas coisas. Aí em torno de uma quarta, uma quinta, uma sexta é fácil... Todas as dimensões. Por quê? Porque a gente não olha pras coisas, a gente olha internamente. Aquilo é apenas um acionador das características internas que representa perfeitamente a bolha de realidade em que nós estamos imersos.
Eu prefiro falar como bolha de realidade e não como realidades. Porque “realidades” parece que elas são concretas, elas são lógicas. E essas realidades não são lógicas. As bolhas não são lógicas, elas apenas operam, elas dão movimento a nossa energia e elas parecem completamente concretas. Então isso conecta com a meditação. A meditação nos permite gerar essa lucidez. Essa lucidez nos permite atravessar os Seis Bardos, ou Cinco Bardos, dependendo de como a gente conta. Ela nos permite atravessar o Bardo da Vida, aquilo que estamos vivendo aqui, aquilo que parece denso, a gente olha… O campo visual. A gente não está olhando atrás, a gente está olhando à frente. Quando a gente olha à frente, a gente esquece atrás. Nós reagimos a isso. Essa reação, ela movimenta a nossa energia, não é um conjunto de ideias, é um conjunto de energias. A gente vai olhando e objeto por objeto ele produz um movimento na nossa energia. A gente olha esse campo, nós podemos olhar esse campo do lado de dentro, buscando aproximar o que aciona nossa energia e rejeitar o que afasta... Isso é o movimento usual do Samsara. Isso é a nossa vida inteira.  Se a gente explicar, é nossas vidas todas anteriores, a gente só fez isso. Isso é o Samsara.
Agora nós podemos, olhando isso, gerar uma lucidez diante disso. Isso é o que o Buda irá propor, que a gente pratique a meditação e gere uma lucidez diante do Samsara, esse tipo de lucidez diante da Roda da Vida. Caso contrário nós somos como equilibristas, sempre buscando alguma coisa. Se a gente olhar a sociedade como um todo, nós vemos as pessoas incessantemente buscando situações, propriedades, objetos, que possam movimentar energia. Aí, o objeto desgasta, porque a insatisfatoriedade existe. A pessoa leva pro brechó, ou aquilo vai pra reciclagem, pra uma ressignificação, e nós estamos ressignificando tudo. Nós estamos dentro da Impermanência, tudo mudando o tempo todo.
Então, desejo e apego é quando nós manifestamos essa dependência; mas nós podemos viver de um outro modo (aí vem o ensinamento budista), não é apenas essa lucidez na frente.

[Sambhogakaya e Samsara]
Aí tem uma expressão no budismo que chama Sambhogakaya que é, por exemplo, quando nós sustentamos a energia por uma outra fonte que não os objetos à nossa frente, esse é o ponto, né? Existem muitas formas de nós fazermos isso, então depois de descobrir esse espaço livre nós podemos agora utilizar isso de uma forma melhor, e algumas pessoas podem, por exemplo, descobrir o que nós vamos chamar de Chenrezig que está associado ao mantra Om Mani Padme Hum.
Chenrezig significa: nós vamos olhar os outros seres e vamos entender que eles estão nesse lugar super difícil, eles estão super confusos, no meio disso, eles estão olhando pras coisas, brota uma energia, eles têm um impulso; é como quando a gente olha pras crianças: a gente olha pra eles e eles estão fazendo isso o tempo todo, eles olham e nem raciocinam, eles tchum (Lama faz barulho de explosão de energia) começam a reagir aos objetos, se gente mostrar uma outra coisa eles saem numa outra direção, é difícil, por exemplo, uma criança que está fazendo alguma coisa e a gente mostra uma outra coisa que a atrai, ele abandona aquilo e vai pro outro; ele não vai dizer: um momentinho, eu vou terminar aqui e depois eu vou praí; ele não vai dizer isso, ele vai direto.
A maior parte das pessoas, quase a totalidade dos seres é assim, se a gente entra na nossa própria casa, a gente pode perceber isso. Por quê? Porque a gente entra, olha a nossa casa, tem uma quantidade de coisas que são tarefas não concluídas que a gente deixou, deixou um sapato aqui, uma louça suja ali, uma geladeira aberta, o fogão… Alguma coisa. De vez em quando a gente deixa a água em cima do fogão, a chama acesa.. A gente esquece. A gente está fazendo uma coisa, surge uma outra coisa e a gente engata naquela outra, nós vamos reagindo às coisas, é difícil manter essa coisa estruturada, virginiana, com tudo direito, uma coisa depois da outra, “um momentinho”. Aí chega a namorada e você diz: “Um momento, que eu estou terminando esse relatório e já vou falar com você…” Aí a pessoa deixa a outra esperando uma meia hora ali. Conclui o relatório... Não dá né? Não tem condições... Então nós vamos deixando.
É como... Vocês estão na internet, né? Aí vocês olham alguma coisa, aí vão procurar uma outra e enquanto estão olhando essa coisa já esquecem da primeira, aí a gente fica zapiando literalmente, zapiando significa perdido, né? De um lado pro outro, ali.
Aí na nossa realidade a gente fica zapiando também, de um lado pro outro de acordo com as coisas. As crianças também, elas ficam assim. Uma coisa brilha, outra coisa brilha, nós vamos sacudindo de um lado pro outro. Então, esse é o Samsara, esse é o processo. Agora, na medida em que a gente descobre esse inspira e expira, inspira e expira; quinze anos depois, a gente descobre que tem alguma coisa estável, atrás.  Esse é o Zen, né? Mas aqui, a gente aprende na hora, não precisa nem ficar quinze anos.  Inspira e expira. Nem precisa inspirar e expirar é só pensar e ver o que acontece.

[Manifestando a própria energia]
Aí a gente descobre essa região livre. Aí nós podemos pensar: “Ok, então como é que eu vou me movimentar?” Aí nós vamos nos movimentar manifestando a própria energia, aí nós vamos primeiro gerar a energia, a gente mantém a energia estável de outra fonte, independente do que aconteça na frente. Aí nós nos aproximamos dos lugares onde nós vamos nos mover... A gente não está chegando nos lugares pra ver que energia vem de lá e se a energia não for boa a gente não anda, não. Primeiro gera a energia, aí nós andamos nos lugares. Uma das formas de sustentar a energia é Chenrezig, então a gente entende que as pessoas estão assim, que nossos filhos estão assim, os netos tão assim... Então, fazer o quê, né?

[Compaixão não é pena]
Aí nós olhamos e a gente pode pensar: “Ah, a chance deles é – ó – pequena. Até mesmo quem chegar pro filho e dizer: “Ó, eu vou lhe explicar uma coisa, agora você senta assim, inspira e expira, dá uma olhada e...” “Mamãe você está assim, perturbada, é melhor você inspirar e expirar que eu vou ter que tratar da minha vida, você fique aí tranquila.” Difícil, ninguém quer ouvir, as pessoas não ouvem, eu não sei como é que vocês estão aqui. (risos) Não sei o que aconteceu, né? Mas, tudo bem, né? (risos)
Se a gente pudesse passar isso, maravilhoso. Mas a gente não pode, né? Aí a gente não pode e diz: Om Mani Padme Hum, Om Mani Padme Hum (Lama faz gestual de passar as contas do mala).. É compaixão pelos seres. Compaixão não é desistência, é mais ou menos: “Me aguarde! Eu descubro um jeito...” Om Mani Padme Hum. Então, essa outra pessoa, ela tem essa natureza, ela tem essa capacidade, porque todos tem. Mas ela às vezes não tá usando isso.
Então compaixão não é pena, não é assim: a outra pessoa não tem solução. A outra pessoa, ela pode descobrir isso, mas ela não tá com vontade de ouvir, não tem como; eu não sei como vou transmitir isso pro outro, né?
Também a gente olha com amor, é Chenrezig, olhar com amor e a gente ver qualidades no outro, a gente ver coisas boas, quando a gente está olhando as crianças a gente está olhando coisas boas nelas, qualidades nelas, e a gente tenta estabelecer relações com essas qualidades pra que mais adiante a pessoa também possa descobrir outras coisas profundas dentro de si.
Se, no mínimo, nós mantivermos uma conexão com a pessoa, isso é uma boa coisa. E chega um tempo em que a pessoa entende. Então, é só paciência, né? Aí, aquilo vai indo. Então o mantra Om Mani Padme Hum, Om Mani Padme Hum, Om Mani Padme Hum. Ele é o mantra disso, quando nós chegamos diante dos outros a gente não pensa que o outro é favorável ou desfavorável; então como o outro estiver, não é o que vai afetar nossa energia, nossa energia tem uma fonte própria, não tá dependendo do que a gente vê, ou da impressão que brota de dentro quando eu o vejo, não é isso, a nossa energia é uma energia estável; aí quando nós chegamos, a nossa energia não vai se perturbar pelo que está se apresentando ali. Isso é super importante, isso é o início do processo de nós liberarmos o nosso movimento, do software de ficar na dependência, isso é crucial, pessoal.

[Inteligências Sambogakaya]
Aí tu tem uma série de sugestões, e todas essas inteligências que nós podemos utilizar, nós vamos chamar de Inteligências Sambogakaya, que elas não são Inteligências nossas, são um aspecto milagroso, do mesmo modo que esse silêncio atrás não é nosso. A gente usa esse silêncio mas isso não desgasta esse silêncio.. Aí o outro pode, o outro pode, o outro pode… Compaixão e amor também, a gente pode, o outro pode, o outro pode. A gente não é como o wi-fi, por exemplo, se a gente disser pro amigo o código, a senha, daqui a pouco a banda tá sobrecarregada, né? É que a banda da compaixão, do amor e do silêncio não sobrecarrega... Aquilo é um wi-fi dos Budas, é uma outra coisa... (risos) Uma banda infinita!  Você senta lá, todo mundo conectado, só aumenta... A gente suga a banda inteira... Não tem isso né?
É como, por exemplo, a luz da lua, no Zen também se fala nisso... Como a luz da lua, a pessoa vê a lua... Aquilo é meio difícil de entender, como é que a outra pessoa no outro estado tá olhando a mesma lua? E eu: como? A luz está vindo pra mim... Como é que está lá também?  Isso eu já não entendo... É assim, né? Uma luz séria ilumina num lugar, depois noutro lugar, depois noutro lugar (risos). Agora, tudo ao mesmo tempo? Hum...
Aquela luz da lua agrada todos os seres, né? Aí eu vejo assim também... Tem algumas pessoas que dizem: “Eu sou como a luz da lua, agrado todos os seres.” (risos) É assim, a pessoa descobre que o namorado é desse tipo, que nem a luz da lua... Agrada a todos os seres (risos), é uma compaixão infinita, é maravilhoso isso, né? (risos)
Mas aí se entende o que é Sambogakaya. Sambogakaya é isso, não é algo que é nosso. Por exemplo, se a gente tem alguma coisa, as nossas propriedades, as nossas coisas, que a gente diz que é nosso. É nosso e não é de outro, né? Eventualmente a gente compartilha, mas a luz da lua não tem esse problema. E Sambogakaya também não.  É uma característica desse tipo de inteligência que se a gente usa e outros usam não afeta, pode usar simultaneamente que não tem nenhum problema.  Já a namorada e o namorado, isso já não seria o caso. (risos) Aí vai dar problema... A gente vê, mas o amor, por exemplo, ele é amplo, eu não queria entrar nesses assuntos (risos) é meio complicado... E eu nem entendo muito bem disso...  Mas então a gente vai ver... O amor é uma coisa ampla, mas namorado é uma coisa estreita... É assim...
Então, Sambogakaya vai estar lá sempre disponível. Namorado já é uma outra coisa, especialmente, por exemplo, a conexão com os objetos de desejo e apego, que eu não  vou enumerar aqui. Nossa conexão com os objetos de desejo e apego, não são seguras. Às vezes funcionam, às vezes não funcionam. Tem um nível de insatisfatoriedade, enquanto que as conexões com o nível de inteligência Sambogakaya são sempre favoráveis.
Por exemplo, se vocês tiverem um amor universal assim, vão estar sempre disponível: compaixão, amor, etc. E especialmente a energia, ela está disponível, ela está presente. Então, a melhor coisa que podemos fazer no nosso funcionamento é manter a nossa mente - a nossa operação - conectada com uma energia de Sambogakaya. Uma Inteligência Sambogakaya, que não flutua. Aí onde vocês chegarem aquilo é benéfico.
Isso funciona também nas relações, por exemplo, vocês têm namorados ou namoradas... Namorado ou namorada - vamos fazer assim, no singular, e não no plural, né? Aí vocês tem essa relação, então se vocês esperarem que o outro sorria pra vocês terem proximidade,  isso é problema. Então é melhor vocês manifestarem compaixão e amor e estabelecerem essa relação com o outro. Isso permite que as relações, elas sejam para sempre. Elas não são relações que terminam, são relações pra sempre, mesmo que as pessoas não vivam mais juntas, estejam fisicamente separadas, as conexões práticas da vida tenham se desconectado, ainda assim nós podemos ter essa conexão de compaixão e amor a qualquer distância, assim. Então a gente não altera isso. Então é melhor desse modo, né? Então nós temos essa conexão favorável com o outro, cada pessoa que a gente encontra não é uma pessoa que a gente vire as costas. É uma conexão que não termina mais, a gente mantém aquilo, por quê? Porque ela independe de se as coisas estão indo bem ou estão indo mal, nós manifestamos uma energia autônoma, uma energia própria, então, esse é o ponto.

[Sabedoria do Espelho]
Então isso é o processo de nós usarmos Sambogakaya como um meio de andar na vida. Aí nós utilizamos dessa inteligência, e nós temos também a inteligência do Buda Akshobhya, a Sabedoria do Espelho, ela também está disponível pra download free, né? Não precisa nem ir na loja é “shoop” (Lama faz barulho de pegar no ar) acessar, né? Significa o quê? Nós entendermos os outros seres no mundo deles, isso é super útil, né?
Super útil, se vocês tem uma relação - a gente sempre tem relações com muitas pessoas, né? - Ou filhos, pai e mãe... Às vezes, a nossa fala não funciona. Quando ela não funciona, nossa comunicação não funciona por quê? Porque o outro está dentro de uma outra bolha, nós falamos alguma coisa a pessoa não entende, então é necessário que a gente entenda o outro no mundo dele. Ou seja, na bolha dele. Aí quando a gente fala dentro da bolha do outro, aquilo funciona. É simples.
Agora, final do ano, a gente vai ganhar presentes, essas coisas, né? Aí nós vamos ver se vocês estão sendo entendidos, né? Pai que ganha cueca, meia, gravata...  Aquilo não está funcionando, né? Criança que ganha caderno escolar, lápis, (risos) ninguém está entendendo, né? Ou cueca, calcinha... Hum. Tem algum problema aí, né? Panela de pressão, né? Dar pra mamãe uma panela de pressão, né? (risos) Se você não sabe o que dar pro outro, vocês vejam, a dificuldade é que a gente não consegue entrar bem no mundo do outro, se a gente conseguir entrar no mundo do outro, é mais fácil...
Então a gente logo vê isso, o porque da sabedoria do espelho, né? A sabedoria do Espelho é crucial para educadores, né? A gente tem os alunos, a gente quer passar aquilo pros alunos, a gente vai ser entendido ou não. Se a gente conseguir falar dentro do mundo do outro, ele te entende, ou se a gente conseguir puxar o outro pra dentro do nosso mundo, e falar, o outro entende. Os professores, eles tem essa habilidade de criar espaços e puxar os alunos pra dentro desses espaços onde então eles vão entender as coisas. A grande habilidade dos professores é propiciar a capacidade da pessoa sair do seu mundo estreito e entrar num mundo mais amplo, isso é super especial, os pais também, eles também vão fazer isso...
Então, nós temos esse desafio que é a Sabedoria do Espelho, agora vocês pensem: e os médicos? Quando eles olham pra nós, os cuidadores, os terapeutas, se eles não entenderem cada um de nós no nosso mundo, como é que eles vão nos ajudar? Super difícil. E os médicos, eles também, os terapeutas... Como os pais e os professores, eles olham as pessoas como as pessoas olham as imagens que vão desenhar. Eles não olham as imagens, eles olham o que brota da mente deles. Do mesmo modo que a gente olha o céu e vê o sol se levantando a leste e se pondo a oeste prova que... Olha lá... Lá é o leste, lá é o oeste... O sol se levantou e desceu. Então aquilo é obvio. Então, quando a pessoa pega um exame de laboratório e olha pra aquilo, ela também está vendo o sol se levantando e se pondo, ela pensa que não está interpretando, mas ela está interpretando. Está trazendo um desenho das imagens internas que ela aprendeu; outra pessoa olha aquilo, que tem outros conteúdos internos e vê outras coisas. É super importante que a gente consiga observar o mundo do outro; nessa área de saúde isso é crucial.. Uma forma de raciocinar é como que aquele conjunto de sintomas está ocorrendo, como é que ele surge? Aquilo não é uma doença que agregou, não é que a pessoa levou um tiro, não é isso... A doença não é um tiro que a pessoa leva, é uma forma de estabelecer um tipo de relação com a própria situação que ela está vivendo em vários níveis. Aí aparece isso, assim.
Então, é muito importante nós localizarmos esse movimento da energia, como aquilo tudo vai, como é que a vida da pessoa estabelece as condições que vão produzir aqueles sintomas... Essa é a Sabedoria do Espelho, nós vamos olhar de uma forma profunda aquilo, tentar entender aquilo no mundo em que aquilo está surgindo.
No caso, das nossas relações de casal, também é crucial, né? Se a gente consegue entender o outro, manter uma energia própria e entender o outro e se manifestar dentro do mundo do outro de uma forma positiva, nós vamos estabelecer relações super estáveis, né? Especialmente se o outro é capaz de fazer o mesmo... Ele é capaz de olhar pra nós, se alegrar, manifestar uma energia própria e nos ajudar.
Um teste já é assim: como é que funciona nossa energia enquanto a gente está lavando a louça. A gente está lavando aquilo, está lavando as panelas, limpando o fogão... Se a nossa energia vem do fogão sujo, de um modo geral a pessoa entra em colapso. A nossa energia, uma energia própria, se manifesta sobre o fogão, e o fogão... Fica brilhando. Aí tem aquela pilha de louças na cozinha... Final de ano é bom, né? Aí se nossa energia vir da pilha de louças, a situação é grave, né? Mas se vocês tiverem uma energia própria, e avançarem com essa energia própria sobre a pilha de louças, aí aquilo em pouco tempo está arrumado... Se vem alguém pra ajudar, você diz: “Não precisa! Deixa eu praticar aqui a minha meditação, eu estou só inspirando e expirando e a louça tá limpando” (risos). Vocês façam esse exercício, vocês olhem a pilha de louça e parem, aí recuem um pouquinho, aí sorriam e vejam! Exercício maravilhoso, né?
Se eventualmente vocês tomarem alguma coisa - por um descuido, né? (risos) Aí o mundo começa a girar, aí vocês tentem retornar e ver o que acontece... Aí nós também podemos retornar e vir a um nível de lucidez no meio disso... Aí quando o guarda chegar e trouxer o bafômetro você diz: “Isso não mede porque eu volto pra aquele estado atrás e ali não oscila nada.” (risos) O senhor não tá entendendo isso.
Então tem essa questão, do mundo dos seres, aí nós vamos entendendo isso. Sabedoria do Espelho.

[Sabedoria da Igualdade]
Aí tem Sabedoria da Igualdade - super importante nas relações. Sabedoria da Igualdade significa assim: a gente olha pros seres, a gente tem esse espaço livre, agora eu decido o que que eu vou usar nesse espaço livre. Eu vou usar a capacidade de entender os outros no mundo deles e me associar às coisas boas que estão acontecendo com eles. Então, quando eu vejo as coisas boas, promovo as coisas boas dentro do outro, me alegro. Isso existe, tem um número grande de pessoas que tem essa alegria, né? Eu considero que isso é o aspecto humano, o principal, assim... A característica humana principal, né?  Eu não sei se os animais tem isso assim. Eventualmente com os filhos, né? Mas não todos... Os irmãos eu já não sei, um pouco menos, né? (risos) Mas pai e mãe com os filhos, pode ser.
Mas, por exemplo, os filhos estão bem, nós nos alegramos. Nossos amigos estão bem, nós nos alegramos. Mas, pode ser que os nossos amigos estejam bem e a gente fique invejoso. Pode acontecer isso. Um ou outro caso (risos) é assim. Aí a Sabedoria da Igualdade se foi, né? Por quê? Porque o outro está bem e eu não consigo me alegrar porque o outro está bem. Não é incrível isso? Deveria se alegrar, o outro está bem. É uma boa coisa...  Porque que é difícil isso, né?
Às vezes, a nossa Sanga, né? O nosso grupo tem várias instituições. Então, às vezes, surge uma discussão, assim...  A discussão de uma mão com a outra, né? “Estou dando para você, mas eu não sei se eu estou me alegrando em dar para você.” Uma mão dando pra outra, né? É a mesma instituição, mas tem esse hábito mental, né? Eu estou dando para você mas, você está me devendo agora”. Uma mão dando pra outra, é? Não existe isso, as duas mãos são a mesma coisa, né?
Aí tem esse exercício tibetano, você pega alguma coisa e dê para a outra mão. Você sente: “Eu tenho que dar mesmo, né?” (risos) Mas e aí? Vai fazer falta pra mim. Mas você vai dar pra outra mão! Você tem uma luva e aí põe na outra mão! Ó! “Essa?” “Eu vou ficar com frio agora nessa mão!” Então, é muito curioso porque, do mesmo modo que a gente olha para um risco e vê um cubo, a gente olha para um desenho e não vê o desenho. Vê formas e energias. Quando a gente olha para as coisas dentro da perspectiva separativa a gente acaba por se atrapalhar, a gente pensa que uma mão tem prejuízo ao dar pra outra.
Então essas coisas, elas se introduzem, elas são nossas disposições cármicas. Elas vêm e elas aparecem como conteúdo dos outros objetos. É que a gente volta pro espaço livre e manifesta a Sabedoria da Igualdade.

[Festas de fim de ano]
Se a gente quisesse definir as festas de fim de ano num aspecto mais sutil, a gente diria: É a festa da Sabedoria da Igualdade, né? A gente vai se alegrar uns com os outros, nós vamos nos alegrar uns com os outros, a gente vai se reencontrar. Então vocês podem sobreviver às festas de fim de ano com esse olhar, assim. (risos) Sabedoria do Espelho, Sabedoria da Igualdade, né? Aí não importa quem venha, até os irmãos de vocês na festa, assim... Pai e mãe, né? É uma época difícil... Aí aparece ex-namorado, ex-esposa, ex-filho... (risos) Aparece todo mundo e a gente não sabe o que fazer, né? Aí vocês olhem Sabedoria da Igualdade, se alegrem genuinamente que a outra pessoa esteja viva, por mais que vocês tenham rezado antes em outra direção, né? (risos) “Que bom que você está vivo, né? Vamos ver se você resiste ao próximo ano.” (risos) “Que bom” (risos)
Pra nós, a gente tinha que fazer esse exercício genuíno, né? Esse olhar. Aí, se vocês não tão conseguindo, aí vocês pensem eu estou diante de um espaço em que eu estou dando significado, de um campo visual que eu estou dando significado como se fosse um desenho. Aí vocês voltem pro silêncio, peguem lá do fundo, bem do fundo, Sabedoria da Igualdade. Aí: “Agora eu me alegro com esses seres...” Antes de ir pra festa, natal, etc. de fim de ano. Aí vocês façam: Que todos os seres sejam felizes (Lama finge passar as contas do mala), que encontrem as causas da felicidade, que superem o sofrimento e as causas do sofrimento...Todos, sem exceção, né? Você pensa em quem vai estar na festa... “Que ela esteja feliz, que supere o sofrimento, que encontre as causas da felicidade, supere as causas do sofrimento.” Vão olhando, aí vocês se preparam pra festa! Isso é se preparar, né? É a festa da igualdade, Sabedoria da Igualdade. É isso, né? É duro, mas, é isso...

[Sabedoria Discriminativa]
Aí tem Sabedoria Discriminativa, nós também podemos usar esse espaço, agora pra olhar com um olho de realidade. Sabedoria Discriminativa poderia ser assim, como se fosse a espada de Manjushri. Manjushri é aquele que olha tudo com o olho que é, ele corta a ignorância. Então nós estamos na festa e pá: “Você envelheceu, né?” (risos) É honestidade, né? Agora, isso não é nada: “Você vai morrer, entendeu!?” (risos) Sabedoria de Honestidade, né? É assim... Quando vocês abraçarem as pessoas, vocês abracem com Manjushri: “Você tá mais velho e vai morrer!” Aí não dá, né? Não dá... Então, Manjushri é um perigo... Não serve pra festa. (risos)
Mas Manjushri é muito bom pro dia dois de janeiro, né? Bom, agora... Realidade! (risos) E agora... Passou o ano e eu faço o quê, né? Vou ficar nessa confusão, vou acordar ou não vou acordar? Então quando a gente está olhando, como é que nós operamos com nossa energia. De um jeito, de outro… E nós ficamos dependentes.
Então isso é Manjushri cortando esse funcionamento que parece natural, que parece que está tudo bem e ele está lá (Lama faz barulho de faca cortando o ar) trabalhando, Manjushri. Ele trabalha assim (Lama faz sinal de proximidade com os dedos) com Chenrezig; Chenrezig é o bonzinho, né? Compaixão, amor, essa coisa... Mas, por exemplo, como é que a gente pode manifestar compaixão e amor que não sejam lúcidos? Tem que ser compaixão e amor lúcidos, se não for lúcido, não adianta; então, Chenrezig e Manjushri, juntos. Aí, se vocês quiserem lembrar façam um cartão de natal de Manjushri. Bota Manjushri assim na capinha, quando abre está ali: “Todos os seres nascem e morrem.” (risos) Nos alegramos que a gente não morreu ainda. (risos)
Primeira Nobre Verdade: sofrimento. Verdade do Sofrimento. Segunda Nobre Verdade: causas do sofrimento. Aí vem assim, Terceira Nobre Verdade: o sofrimento pode cessar. Ah, aí é bom, né? Quarta Nobre Verdade: existe um caminho para cessação de sofrimento - é só abandonar todas as negatividades... (risos) É assim. Oito passos. Muito simples. É uma boa coisa, é uma boa coisa.
Então, a sabedoria, a lucidez, super importante, né? Nós podemos usar esse espaço pra manifestar a lucidez. Essa lucidez é muito importante na nossa vida, né? Porque, por exemplo, a gente pode ter as relações de casal, nós estamos bem, nós podemos estar felizes, mas é necessário entender como é que tudo gira… Se a gente não tiver essa capacidade, quando surge um problema, a gente não sabe o  que fazer.  Então eu preciso manter essa energia em qualquer circunstância, é o primeiro ponto - não ficar na dependência das coisas. A partir dessa energia usar os vários níveis de lucidez e as várias Inteligências de Sambogakaya. Sabedoria do Espelho, Sabedoria da Igualdade, Sabedoria Discriminativa, Sabedoria da Causalidade. Veja só, é muito importante que mesmo que as coisas estejam indo bem, que a gente entenda que certas ações, elas vão causar problemas e outras vão ser melhores. Umas são melhores e outras são piores, então é melhor fazer as melhores ações e evitar as outras.
É assim, a gente tem que entender isso. Compaixão e ensinar às crianças, ensinar aos outros a como fazer as coisas melhores, isso tudo é compaixão, né?
Então, a Sabedoria da Causalidade, elas às vezes surge como se fosse alguém chato dizendo: “Olha, faça isso e não faça aquilo.” Mas é crucial. Os pais, eles deveriam ajudar aos filhos, mais, deveriam ajudar uns aos outros a fazer as coisas funcionar; os terapeutas, os médicos, eles também têm que ajudar, todo mundo. Nós estamos num processo de educação constante. Eu resolvi essa análise em que o profissional em que mais tempo nós nos conectamos são os professores. A gente está sempre ligado a um processo de educação, a gente está sempre aprendendo. O tempo todo.

[Sabedoria da Causalidade]
Então, a Sabedoria da Causalidade é muito importante, no caso das relações, ela tem um desafio, por exemplo, nós deveríamos realmente manter nossa energia equilibrada independente das circunstâncias. Então, pode vir alguém e nos agredir, a gente não deveria oscilar... A nossa energia não deveria oscilar, por agressão, nem por elogio, por nenhuma circunstância. A gente deveria se manter, assim. Na verdade a agressão não é mais grave do que a sedução. A sedução, ela aparece como se fosse o céu se abrindo pra nós. A gente não tem defesa pra isso, a gente está sempre esperando que alguma coisa sedutora apareça e que a gente então explique que vai fazer algo especial, né? A gente tá buscando um processo desse, aí aparece alguma coisa sedutora e nos leva facilmente.  Então, nós precisamos ter esse equilíbrio de  novo, né? Frente a situações sedutoras e situações ameaçadoras nós inspiramos e expiramos um certo número de vezes, percebemos esse espaço livre, olhamos pra aquilo e escolhemos com que olhar nós vamos olhar... Sabedoria da Causalidade, a gente vê onde é que aquilo vai dar, né? Se aquilo é favorável ou desfavorável, então é muito importante.
Com os filhos também... Às vezes, eles se comportam mal, eles apertam, pesam... As relações de família também, né? Aí, quando vocês estiverem na festa de final de ano também. Aí, vem as pessoas e elas tem uma perturbação natural, depois que elas tomam a terceira - não sei bem o quê - aquilo solta mais...  Aí vocês fiquem serenos, aí eles ainda vão dizer: “Você não está bebendo e está só com essa cara aí.” Aí, ainda assim vocês fiquem serenos, né? “É que eu não tô bem do fígado.” (risos) Aí evitem... Quando vocês sentirem que estão com a sensação de fazer alguma coisa, vocês de novo respirem e lembrem - Sabedoria da Causalidade - não é interessante. É como se fosse a pilha de louça, aquilo está acontecendo mas não é aquilo que vai perturbar você. Aquilo simplesmente se manifesta. Aí tem pessoas especializadas em perturbar gente serena... (risos) Aí você tá sereno e a pessoa:
- Você tá tão sereno...
Aí, começou... E você:
- Ó... (Lama revira os olhos com enfado).
- Você é sempre assim?
E você:
- Só em festa de natal! (risos)
Aquilo é uma realidade. Escapar é um bom treinamento, né? Aí vocês de novo... (Lama inspira e expira com força) “Ó, sim.” Sabedoria da Causalidade, né?

[Sabedoria de Dharmata]
Aí tem Sabedoria de Dharmata. Sabedoria de Dharmata é nós aprofundarmos a lucidez sobre esse estado livre. Percebermos que onde nós estamos ele está sempre presente. Durante a vida, quando nós dormimos à noite e sonhamos, a gente está dentro de um quadro que aparece na nossa mente. A gente está deslizando no meio daquilo. No entanto, esse espaço, ele está livre também. Ele nos acompanha. Quando nós estamos meditando, é isso que nós estamos praticando, né?
Quando nós estamos nos aproximando da morte, é a mesma coisa, né? A gente pode não acreditar, mas agora sim a realidade se apertou e vocês, de novo, enquanto estão respirando, (risos - Lama novamente inspira e expira) vocês vão contando: “Agora eu acho que são as últimas mil.” (risos) “Mais uma...” Aí, tem esse espaço atrás, né? Vejam esse espaço atrás. E quando morreu, aí aparece o além, e você diz: “Esse além também... Fajuto! Samsara.” Aí vocês respiram no além também, assim... (Lama inspira e expira com força) Sim, porquê, no sonho a gente não caminha? Não anda? Pode respirar também... No além também, a gente vai respirar; aí vocês  tem isso que está livre, assim.  Aí aparece aquele ser terrível, a ex-esposa. (risos) Aí você: “Você era uma fraude em vida e aqui também.” Respira.
Aí nós guardamos esse estado, quando a gente diz, Seis Bardos, esse estado atravessa os Seis Bardos. Ou os Seis Bardos não perturbam esse estado.

[Prajnaparamita]
Se tem alguma coisa que se mantém em vida e morte, é isso. Aí de novo, vocês pensam: “E o que é que eu vou fazer com isso? Vou usar Sambogakaya, vou usar as Inteligências de Sambogakaya e atrás da Inteligência de Sambogakaya está Prajnaparamita: Om gate gate paragate parasamgate bodhi svaha.” Nós vamos praticar isso, ou seja, nós retornamos ao silêncio e olhamos as coisas e vemos como elas se movimentam, como elas ganham sentido.
Bonito isso, como é que aquilo tudo ganha sentido ali.  As coisas não tem um sentido amplo, elas ganham sentido dentro das bolhas de realidade, como um filme, tem sentido ali dentro, e aquilo não vem do que nós vemos, aquilo vem… A gente nem está vendo direito, aquilo é o nosso mundo interno aflorando por cima dos riscos e imagens e sons que aparecem. Isso é compreensão da vacuidade, né? A vacuidade aparece na forma, na aparência das coisas, aí nós estamos no meio disso. Isso é Prajnaparamita, a compreensão disso. Aí vocês se divirtam, sentem no cantinho da festa e: “Om gate gate paragate parasamgate bodhi svaha.” E aí: “Quer um champanhe?” “Sim!” E: “Om gate gate paragate parasamgate bodhi svaha” (Lama finge segurar uma taça de champanhe). É assim, serenos.  (Lama finge beber o champanhe e continua com o mantra) (risos) Prajnaparamita.

[Guru Rinpoche]
Aí tem Guru Rinpoche. Guru Rinpoche também, perigo verdadeiro. E o Guru Rinpoche, vocês vejam, ele tem aquilo que a gente chama de Intenção Iluminada, né?  É como ocorre nesses vários Lungs, né? Essas várias Inteligências, todas elas tem. Sambhokagaya tem um Lung. Vocês olham com compaixão os outros seres e brota uma energia em vocês. Não é só o olhar, é que a energia está ali. Então cada uma dessas Inteligências tem uma energia de ativação. O olho brilha, respiração vem e a gente vai seguindo com compaixão, com amor, com alegria, olhando os outros e os entendendo no mundo e vendo Sabedoria da Igualdade, Sabedoria Discriminativa, tem uma energia de ativação operando ali. Guru Rinpoche é aquele que olha o mundo e se interessa pelas pessoas, e se dedica às coisas melhorarem.
Aí Chagdud Tulku Rinpoche, meu mestre, quando foi lá no sul, apareceram muitos seres místicos pra olhar ele, né? Pra entrevistá-lo, delegações de espíritas, gente de outras tradições religiosas, foram perguntar pra ele. E lembro que algumas pessoas diziam isso: “Rinpoche eu vejo um portal de luz aqui.” E Rinponche: “Ah, eu não vejo nada mas, tudo bem.” (risos) E eles começavam a insistir, assim, né?  Aí surgiu a ideia de que a Califórnia ia afundar. Porque o Rinpoche estava na Califórnia e tem aquela falha de Santo André, né? Aí se o mestre vem é porque ele tá escapando e aquilo vai afundar, com certeza, né? Tá escapando de lá vindo pro Brasil... Aí, lá pelas tantas, o Rinpoche resolveu explicar... “Eu não estou vindo porque eu estou achando que aqui é um bom lugar, não é isso... Não é isso. Eu estou vindo porque eu penso que aqui eu posso trazer benefícios.”
Então isso é a posição de um Bodisatva. Isso é com Guru Rinpoche. Ele ficou 111 anos no Tibete, quando terminou aquele período, ele já tinha dado os ensinamentos, as pessoas já tinham ouvido, já tinham entendido, não praticavam direito, né? Porque afinal é assim. Aí tem a despedida dele, ele lascou todo mundo... Mas, ele fez o que ele tinha que fazer, ele deixou os ensinamentos e foi embora, não adianta ele ficar lá. Aí, Guru Rinpoche foi pra onde? Aí Guru Rinpoche foi pra Califórnia (risos), foi pra Austrália (risos), foi ser surfista? Não... O Guru Rinpoche foi pra Terra dos Demônios Canibais. Pense, um lugar piorzinho, assim, nunca mais se ouviu falar dele. Terra dos Demônios Canibais, eu não sei. Mas, o Guru Rinpoche foi pra esses lugares. É importante entender isso, os Bodisatvas eles são meio assim: onde é que você vai? “Agora eu vou lavar a louça!”
Ele tem energia, ele vai ajudar as coisas a andarem, então tem um movimento no mundo, eventualmente vocês vão sentir em vocês também, a vontade de beneficiar as pessoas, de criar Terra Pura, criar lugares favoráveis pras pessoas. Então, isso brota não como uma teoria, brota como uma energia, uma energia autônoma. Não é porque está tudo funcionando bem que a pessoa vai fazer isso. Não, a pessoa vai fazer isso porque isso é uma boa coisa a ser feita, né? Então isso é Guru Rinpoche, né? A energia dele.
Aí vocês vão olhando Sambhogakaya tem uma enorme riqueza. Qual é o sintoma de Sambhokagaya? Qual é a característica de Sambhokagaya? Quando nós descobrimos isso e o outro faz também, ele não perturba a banda, né? Ou seja, tem download pra todo mundo, pode conectar que aquilo funciona. Enquanto as coisas que pertencem ao mundo, se algum tem o outro perde. Se dois pegam cada um pega a metade. Se são três, é um terço. Sambhokagaya não. A gente pega inteira. É como a lua. A gente olha pro céu não está faltando nada, a lua inteira. Você admira que o outro também está vendo, não é? Porque nós estamos vendo inteira, a lua. Sambhogakaya é assim. Então o Buda aponta a lua no céu - você vê lá no cantinho da Roda da Vida - ele aponta a lua. Sambhokagaya. É assim. As Inteligências que estão acima, é muito importante entender isso. Isso é pós vacuidade. A gente entendeu vacuidade, aí tem a pós. Sempre tem a pós, né? A gente entende Sambhokagaya, então a gente usa isso, essas visões, elas são construções, elas vão construir o mundo a partir dessa energia.
Então desejo e apego? Não tem solução. Isso é o Samsara. Mas a nossa vida tem uma solução, a felicidade é possível, nós podemos andar bem no mundo, nós podemos ter boas relações com as pessoas, o mundo pode ser muito melhor. O mundo não é isso que nós estamos vendo, nós vemos o mundo a partir... É como alguém que tá olhando um desenho, como alguém que está olhando um cubo. Nós olhamos o mundo a partir dessas construções que nós temos dentro. Então, o mundo é mágico. O mundo, ele está disponível. As coisas podem ser muito melhores do que são. Agora, a gente olha com os olhos limitados, dentro da Roda da Vida, a partir de orgulho, inveja, desejo, apego, ignorância, raiva, rancor, ódio, medo... Desistência, aí... Aparece um mundo confuso, né?
As histórias de fim de ano, a gente se encontra e vai ouvir muitas coisas aí. Mas, às vezes, isso é muito comum, as pessoas relatam essas coisas, né? Quando a gente está dentro de uma festa dessa, a gente não consegue nem mesmo falar qualquer outra coisa que não seja aquilo. É bonito de ver: a gente fica paralisado. Aquelas bolhas de realidade, elas se estabelecem, mas, no mínimo, a gente lembra. Tem esse espaço livre, tem o ar fresco do lado de fora, tem o céu profundo do lado de fora, o céu está lá. Espero que todos vocês sobrevivam! (risos)

[Perguntas]
Eu acho que a gente tem alguns minutinhos pra alguma pergunta, ou algum protesto também. Uma adição.

Alguém fala:
- Festa de fim de ano, a gente sempre tem a perspectiva da vacuidade, mas também tem… Você tem o espaço da brincadeira, eu gostaria que o Lama falasse um pouco desse espaço que tem um ensinamento também.

Lama:
- É, isso é interessante, né? ou seja, a gente pode usar esses encontros de uma forma melhor, né? Não é isso? Sim, eu acho que a gente pode conviver, a gente brincar com isso, a gente pode ficar com essa postura cautelosa mas também é possível… Na perspectiva da igualdade, também é possível construir na mesma linguagem. E trocar afeto… Com certeza, é Chenrezig. Ele olha aquilo e se comove, né?
Com certeza. Essa inteligência de brincar, eu não sei qual é a idade. (risos) Essa é uma boa inteligência, né? Eu acho que é um lado bom de Prajnaparamita. A gente vai vendo a vacuidade e vai brincando com aquilo, né? Aquilo parece que vai produzindo todas as realidades e a gente vai girando com aquilo, né? Quando a gente ri de alguma coisa é que a gente viu de um jeito e depois viu de um outro jeito. Quando a gente quebra aquela visão, então a gente ri. Então é interessante a gente poder ver de outro jeito e quebrar aquilo e rir também das coisas, isso é bem bom. É uma boa coisa. Encontrar as pessoas e rir também um pouco, uns dos outros, né? Isso é uma boa coisa, das seriedades todas, né?
Eu lembro, tinha uma época em que eu viajava com a Sophia, minha filha pequena… Hoje ela está com vinte anos… Mas ela tinha de 10 a 8 ou de 10 a 12 quando ela viajava comigo. E, às vezes, eu chamava: “Ô Sophia, conta aquela!” E ela contava uma piada pra todo mundo. Aí, eu vou contar uma bem curtinha que ela contava.
É a história de um menino que não queria comer, aí eles chamaram o psicólogo e o psicólogo tentou produzir um tipo de tratamento, um tipo de abordagem e não funcionou. Chamaram outro e não funcionou. Chamaram outro e não funcionou. Aí teve, enfim, um lá que disse: “Eu resolvo! Isso é um assunto que eu resolvo! Não tem problema!” Aí, trouxeram a criança, e ele tentou várias coisas e a criança não comia, não tinha jeito. Aí, no fim ele se incomodou e disse: “Você diga alguma coisa! Alguma coisa você vai ter que comer! Diga o que é que eu vou trazer pra você!” Aí a criança olhou assim… “Minhoca ensopada!” (risos) Aí ele deu um sorriso de vitória… “Claro, agora você vai comer minhoca ensopada! Você pediu!” Ele deu um jeito, fez um crime ecológico, refogou as minhocas, ensopou aquilo e trouxe. Mas a criança era terrível, ele só dizia alguma coisa depois de chorar muito. Aí quando ele trouxe o ensopado de minhoca, a criança começou a chorar: “Uééééééé!” Aí o psicólogo falou: “O quê que foi agora?” Aí ele disse: “Eu não vou comer se você não comer também!” (risos) Aí o outro tava assim, possesso! Aí ele cortou, dividiu na metade: “Então, metade pra cada um!” E a criança: “Uéééééééééé!” E disse: “Você tem que comer primeiro!” (risos) E ele tava assim: croc, croc, croc (Lama faz barulho de homem comendo) Aí ele: “Uééééééééé!” E ele: “Que foi?” E a criança: “Você comeu a minha metade!” (risos)
É assim. Essa eu acho muito boa. Fez o outro comer as minhocas… Então, isso quebra, porque a gente ri, né? Porque a gente vinha pensando de um jeito e aquilo vira, né? E quando vira, vocês vão olhando as caras todas são assim, né? Tem uma energia intensa, aí depois aquilo vira. E a gente ri.
É super importante, né? então a gente está no meio das nossas coisas super difíceis, é como aquilo: Puxou a arma e (Lama faz barulho de esguicho), pronto o outro riu, né? Primeiro levou um susto, né? E depois riu. Aí, pronto. Liquidou. A bolha desaparece, surge uma outra coisa.
Então é isso, nós vamos fazer dedicação e vamos nos despedir.
Que os méritos desse encontro se expandam e toquem a todos. Que o mestre universal da paz e da compaixão, Sua santidade o Dalai Lama, juntamente com todos os mestres de todas as tradições que veiculam esta mensagem, tenham longa vida. Que todos estejam a salvo de gerar pensamentos negativos, o obstáculo mais destrutivo. Que estes pensamentos nunca surjam em nossa mente e que todos os seres também estejam livres de pensamentos negativos.

Então, obrigado. Alegria de reencontrá-los. Obrigado.

quinta-feira, 5 de março de 2015

História da Expansão do CEBB - Transcrição

História da Expansão do CEBB

Transcrição da palestra "O que estamos fazendo no CEBB #3" - Lama Padma Samten - 2015


( Para o Ação Nalanda, mandala de transcrição do CEBB )


[O encontro de facilitadores do CEBB]
(Preces e mantras) Bom dia. Então, eu queria dizer também, confessar minha alegria de ver vocês aqui, né? Todo mundo... Cada um vem de um lugar, né? Isso é uma coisa rara, a gente poder se encontrar todos no mesmo espaço nesse tempo assim, né? Então é um momento especial, é como se fosse um dia, assim. A gente se encontra, né? Cada um vem de um lado, né? E hoje eu tava vendo as pessoas também conversando, né? E é bonito de ver. Porque não tem muitas oportunidades, fisicamente, da gente se encontrar, né? Ainda que a gente esteja fazendo as mesmas coisas. Todo mundo tá sabendo um pouco uns dos outros, né? Mas é super bom a gente se encontrar pessoalmente assim. Muito bom isso.

[Aspectos Grosseiros do CEBB]
Então, eu tava falando dos aspectos mais sutis, né? Agora eu vou falar do aspectos mais grosseiros: os terrenos, as obras, as coisas assim. O que nós tamos fazendo, né? O que que a gente tá pensando em fazer ainda... Como é que tá isso, né? E, nesse encontro, também vão surgir outras ideias e aquilo vai evoluindo. Então, é super importante a gente ter essa oportunidade de trocar, de sentir. Eu acho que a maior parte de vocês sabe o que eu tô pensando porque eu tenho falado constantemente assim, né? Mas é bom falar de novo, né? Sempre tem alguma coisa nova, né?

[História da Expansão do CEBB – Primeiro endereço: POA]
Então eu vou lembrar de forma rápida como é que começou essa expansão e o que é que tá motivando essa expansão, o que é que tem acontecido, né? Então, o que aconteceu é assim: o CEBB, na verdade, começou em Porto Alegre, né? Vou contar a história bem curta. Porto Alegre. Rua Barão do Serro Largo, 487. Antes disso, o CEBB teve vários funcionamentos. O embrião, o início, o coração começou a pulsar foi na casa do Celso Marques. A gente começou fazendo as práticas de zazen nos sábados. Depois, a gente abriu um horário nas quartas. Depois, a gente abriu um horário segundas. Depois, aquilo ficou segunda, terça, quarta, quinta... No fim, a gente tomou conta da casa do Celso. Aí aquilo começou a incomodar um pouco... Era uma casa, uma casa de família. Ele não nos expulsou, né? Mas a gente viu que não tava bom pra ele.

[História da Expansão do CEBB – Segundo endereço: POA]
Aí, com o tempo, a gente começou a procurar algum outro espaço que poderia ser útil. A gente fazia meditação quatro e meia da manhã. Era um tempo especial. Eu tinha um fusca e o fusca pegava as pessoas nas várias casas e levava, aí vinha mais alguns carros e a gente praticava. A gente começou a praticar também na casa do Murian, no apartamento do Maurian. Aquilo foi um período super interessante, porque eu vi as crianças dele crescerem, né? Hoje o filhinho deles é o Uzi (?) lá do Gonpa, né? Tá há muito tempo lá no Gonpa, muitos anos. Então, surgiu uma sanga maravilhosa. Eu vi eles nascendo, vi na barriga das mães, aquilo foi indo, assim. Por isso que quando eu vejo uma mulher grávida, já me alegro. Só que mais adiante... (risos) Eu vejo os praticantes nascendo, vi a mamãe da Tatá, também. O tempo passa. Acho super bonito isso. O tempo vai passando e – quem diria? – a Tatá olha como tá, maravilhosa. (risos) Aquilo vai indo... É muito bom. Então, tem esse aspecto assim, antigo, né? Aí o CEBB num certo momento se estabeleceu na Barão do Serro Largo, 487. Porque a minha mãe morava em Porto Alegre e se mudou pra Rio Grande. Aí eu comecei a afastar os móveis da sala. A gente fazia prática. (risos) Aí, com o tempo eu tirei os móveis da sala, empurrei pra algum lugar e aquilo ficou. Aí, de vez em quando, ela vinha e olhava aquilo. Achava mais ou menos... Aí, ela resolveu fazer um investimento: fez uma lage em cima da casa e fez a sala de meditação em cima, né? Ali ficou um lugar super agradável. Muito bom, né? Então, a gente usou durante um longo tempo. O Lodi Gyari Rinpoche teve lá. Foi um tempo assim, né? Teve outras pessoas super conectadas as SSDL. Foi no período em que a gente tava recebendo os organizadores pra poder receber o Dalai Lama em Porto Alegre. A gente começou a organizar eventos em Porto Alegre, junto com a universidade, Sociedade Brasileira de Física, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Universidade Federal ... A gente começou a organizar eventos de 3 meses de duração com diferentes palestrantes toda semana. Foi no final da década de 80. Aí veio o Alex Perzim, veio Jose Ignacio Cabezon... Ele foi um dos tradutores do Dalai Lama por várias vezes... Quando o Dalai Lama ia a Bodigaya, tinha o encontro com as sangas e aí ele traduziu, várias vezes. Ele tem muitos livros publicados. Ele teve aqui no sul duas vezes. Aí, naturalmente veio a Hélia Diski (?), vieram muitas pessoas. As sangas tavam todas iniciando, porque os anos 80 foi o início das sangas, né? Aí aquilo foi andando. Mas teve um certo momento em que a sala ficou pequena também. Naquela sala o Chagdud Rinpoche deu a primeira iniciação. Deu iniciação de Guru Rinpoche, deu iniciação de Ngondro. Foi onde a gente começou também as práticas de Ngondro, naquelas salas. O monge Tokuda também. Aquilo foi interessante, né? Porque o monge Tokuda chegou no dia em que nós távamos finalizando a sala. Nós tínhamos pintado, arrumado, ajeitado tudo... A sala tinha sido construída e nós távamos finalizando, né? A gente queria fazer o primeiro zazen ali. Não conseguiu. O primeiro zazen já foi feito com o Tokuda. O Tokuda chegou na manhã seguinte, entrou – “Já tem vibração nessa sala”. Aí ele deu nome pra sala, deu nome pro centro zen, foi um momento interessante, foi muito bom. E a gente funcionou por muitos anos ali. Mas aí, enfim, a sala começou a ficar pequena. Quando Rinpoche ia a Porto Alegre, a sala (lotava). Aí, no fim, quando eu tava lá também, a sala (lotava). Aí um dia surgiu essa ideia – “Quem sabe a gente compra uma área...”

[História da Expansão do CEBB – Terceiro endereço: Viamão]
E aí no fim a gente comprou essa área aqui em Viamão. Foi no ano de 97. E aí, em 97, a gente se mudou pra cá. E já chamava “Caminho do Meio”, né? A gente aproveitou o nome. CEBB Caminho do Meio. A gente leu uma previsão: “No futuro, haverá um centro budista no Brasil num local chamado Estrada do caminho do meio...” (risos) Não, isso não havia não. Tô brincando. Mas é um bom lugar, né? Aí a gente se estabeleceu aqui. A gente pensou: “Bom, agora sim.” Mas era um tempo em que tinha muito menos movimento ao redor. E a cidade, a zona metropolitana, vai crescendo, crescendo, crescendo... Aí começou a surgir um pouco de ruído. No início, aqui era super heroico. Era como se fosse um pouco afastado, realmente. Por exemplo, não pegava celular e não tinha linha telefônica fixa. E não tinha internet. Era assim. Pra mandar um recado, pega o cavalo e leva até lá. (risos) Era um tempo heroico, era bonito. 97, vocês pensem... Há pouco tempo atrás, né? Até a gente ter a primeira linha física e os celulares começarem a funcionar levou um tempo. Aí veio a linha física, veio a internet... Mas, sempre difícil a linha física, tinha ruído, complicado. A gente nunca conseguiu uma linha física boa, até que a gente desistiu. Hoje a nossa linha é de celular. A física é melhor abandonar. Aí, a gente começou os retiros. Os retiros curtos, um pouco maiores, os retiros de 3 meses, no Lótus Dourado, uma casinha de madeira dentro do bosque. Super bom. Aquilo parecia maravilhoso.

[História da Expansão do CEBB – Pernambuco]
Aí, com o tempo, começou a ter uma demanda. Aí já não tinha muitos horários, não tinha muito espaço pras pessoas fazerem retiro. E as pessoas começaram a querer fazer retiros mais longos também. Aí o que aconteceu? Surgiu uma oferta de uma área de terra em Pernambuco. Eu achei aquilo maravilhoso, porque ampliava em direção ao Nordeste, que eu já tava visitando há muitos anos. Eu achei super bom. A primeira visita ao nordeste foi a Ana Rickley (?). Ela me convidou porque ela era consultora de organizações. Ela me convidou nesse âmbito. Aí eu fui lá. E a Ana tinha uma conexão com o Gonpa, de algum modo. Chagdud Gonpa. Então, quando eu cheguei ao Nordeste eu ajudei um bocado lá, a consolidação do Chagdud Gonpa no local. Aí aquilo funcionou bem durante um bom tempo. Mais adiante, o grupo da Bahia também apoiou o surgimento do grupo de Pernambuco. A gente pensa que é ao contrário, né? Mas na verdade foi assim: primeiro a Bahia, depois Pernambuco. Foi o Valência (?). Esse ano o Valência (?) teve aqui também em dezembro. O Valência (?) que me convidou também dentro de um âmbito de empresas. Não sei se era 20 anos da empresa dele ou 30 anos, foi uma coisa assim. Ele convidou todos os facilitadores do grupo dele e teve um encontro grande lá em Pernambuco e ele me convidou. Aí, eu tava lá. Era um encontro esquisito, daqueles encontros empresariais: uma grande mesa num hotel (risos). Bonito. Mas aí, o Valência (?) e a família dele apoiaram durante um longo tempo. A Albânia (?) também veio várias vezes aqui . Albânia (?) é a esposa dele. Ela terminou sendo coordenadora do CEBB lá de Pernambuco e aquilo avançou. Foi avançando. Até que nós tivemos esse oferecimento da terra pelo Roberto Fischer (?) e aquilo foi um período muito interessante, que teve várias nuances. Mas, enfim, nós tamos lá numa área de 15 hectares. Escriturada, direitinho, e nessa área a gente conseguiu estabelecer um centro de retiros aonde as pessoas têm feito retiros mais longos. 1 ano, 2 anos, 3 anos... Tem feito lá. É uma área isolada. E a gente continua construindo, continua melhorando lá. E aquela área me pareceu muito favorável porque ela tá no meio de um arco que vai de Salvador a Fortaleza. E ela tá equidistante de Recife e João Pessoa. Então, já é uma área interessante, assim. As pessoas podem se deslocar por 100 km e chegam ali, né? Tanto de Recife quanto de João Pessoa. E, um pouco adiante, Natal. Então, aquilo pode dar origem e servir de apoio àquela região toda. É o que eu tava imaginando, né? Enfim, especialmente pelo trabalho agora do Henrique, que tá localizado lá, da Bia, da Marcinha, teve uma grande expansão, com o apoio da sanga de Recife. Do João, da Flori (?)... Um grupo bem grande, assim, né? Teve uma expansão acentuada. Então, os retiros lá – de modo geral – têm a sala cheia. Vem gente de todo lado do Nordeste, né? Super bonito, assim. Agora, bem recentemente, da última vez que eu tive lá, eu vi um grupo grande de jovens que tão se deslocando pra morar lá, na área. Achei aquilo super bom, assim, maravilhoso. Então eu considero que tem um grande êxito nessa localização no Nordeste. Ontem eu tava falando com o monge Monteiro e ele tava me falando porque é muito difícil o Nordeste. Ele tava me explicando porque é que o Darma vai entrar com grande dificuldade no Nordeste. Eu achei interessante mas, de qualquer maneira, não é assim, né? Então, ele tava dizendo como tem o aspecto familiar e cristão e católico ou evangélico, é super fechado no Nordeste. Então, como é difícil uma pessoa se tornar praticante, porque ela é policiada pelo resto da família, que é muito próxima e começa a pressionar, assim, né? De qualquer maneira, nós tamos avançando. Não sei. Isso eu não conversei nem com a Flori (?) nem com ninguém do Nordeste, não sei como é que é isso. De qualquer maneira, a gente desconhecendo isso, a gente fez coisa andando, né? Então, foi o segundo centro rural, assim, foi Recife, né? Quer dizer, foi Timbaúba.

[História da Expansão do CEBB – Brasília e Alto Paraíso]
E depois surgiu – bem recentemente, né? – a Inês apareceu por Brasília. E de Brasília ela foi com uns amigos da própria sanga...  A sanga de Brasília surgiu assim como da noite pro dia, né? Parecia que aquilo tava pronto, né? Foi impressionante. E surgiu com força: gente articulada, inteligente, capaz de fazer as coisas funcionarem. Foi super rápido. E de Brasília, apareceram pessoas que tinha casas e tinham contatos em Alto Paraíso. Daí eu pedi pra Inês ir lá pra dar uma olhada. A Inês achou aquilo super propício. Aí eu fui lá também e achei aquilo maravilhoso. Pensei assim: “Vou morar aqui. Vou me deslocar pra cá.” Por que? Porque - a água límpida. Pros paulistanos a gente tem que começar falando assim, né? (risos) Água límpida, abundante. (risos) Pros cariocas também, agora a situação tá assim, né? Aí, aquilo maravilhoso. Montanhas assim que parece que são de outro planeta. Montanhas incríveis, né? Maravilhoso. Sol límpido, céu límpido. Um perfume no ar, né? Depois a gente conseguiu uma área do lado do Rio dos Couros que divide com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros com 65 mil hectares. Então, nosso quintal é 65 mil hectares preservados. Pensem! A gente pode ter assim 100 metros quadrados, aí tem o parque todo ali. Isso é uma boa coisa. É, o jardim de Maitreya. Tem esses nomes todos. A cidade, a avenida principal da cidade é Avenida Kundalini. (risos) A cidade é dividida em chacras. (risos) É tudo assim. (risos) No pórtico da cidade, uma nave, assim, disco voador. A praça é pros vários elementos, assim. Super. Tem um Guru Rinpoche, me admirei. Tem muitos grupos que tão escondidos em vários lugares, aí eu fui lá visitar um dos grupos e tem uma enorme estátua de Guru Rinpoche, na beira do Rio dos Couros. Eu juro pra vocês que, quando eu olhei pra ele, ele piscou o olho. (risos) Vocês vão dizer que não foi mas foi. (risos) E ele fez assim, atrasado né? (risos) Maravilhoso. Aí eu tava vendo o que que Guru Rinpoche vai fazer... Porque eles construíram a estátua na beira do rio e não pode, né? Tem as normas ambientais – tem que ter 15 metros, 30 metros... Não pode construir, mas eles construíram na beira do rio. Pensei: “Agora eu quero ver como é que eles vão fazer pra desmanchar o Guru Rinpoche. Eles não vao conseguir, né?” E não conseguiram. Guru Rinpoche ficou lá. Então, é assim, tem muitos grupos interessantes, né? Porque, vocês sabem, essa coisa do samsara, vai apertando daqui e dali e as pessoas – vlupt – vão pra algum lugar mais perto de um portal cósmico. O pessoal vai pra Alto Paraíso. Aí tem muitos grupos interessantes, né? E a gente começou a interagir. Então eu acho que uma das coisas maravilhosas de lá é essa riqueza humana. A riqueza também da cidade. Eles olham pra nós e sabem o que é que nós tamos fazendo. Super bonito. E aí nós chegamos lá e a gente começou a conversar e a organizar eventos de diálogo com os vários grupos, né? Aquilo foi super bom. Porque cada um chegava como salvador, né? Então eles têm uma certa dificuldade de conversar uns com os outros. Aí a gente chegou lá conversando. Aquilo ajudou bastante. E, logo em seguida, a gente também se conectou com a Escola Vila Verde. E a gente terminou incorporando a escola pra nós, porque eles tavam com alguma dificuldade... A gente terminou assumindo. A pessoa que tava dirigindo a escola, ele era um xamã colombiano, uma pessoa super legal, assim. Mas ele tava fora, com desvio de função, né? Assim, era um xamã gerindo (risos), aquilo não tava dando muito certo, assim. (risos) Aquilo não tava indo muito bem, né? Então, agora aquilo tomou um rumo, assim. Eu pedi pro Fernando e pra Eliane irem pra lá, aí eles saíram de Maceió e se deslocaram pra lá. Então, nós tamos reforçando, assim, reforçando o funcionamento da escola. O Edgar e a Maria Eugênia ajudaram muito, assim, eles colocaram em ordem a escola esse ano, né? A parte contábil. A escola era deficitária. A gente conseguiu – mais ou menos – arrumar aquilo. Então, a gente tá avançando. Foi uma super aventura.

[História da Expansão do CEBB – Recôncavo]
Aí, nesse ínterim, a Ana Ricl também queria uma terra assim - ela tinha esse sonho. Enfim, agora a gente tem o CEBB Recôncavo, que é um lugar super bonito. Depois, a Ana vai falar um pouco. O aspecto do local, assim. Um local tradicional dentro da Bahia. Lugar super especial. Enfim, foi uma coisa hábil da Ana, porque ela comprou uma pousada. Aquilo já tava pronto, assim, né? Tudo funcionando. Pousada dum casal francês. Então, é muito legal. Tem casas nas árvores - tem umas coisas assim, né? Tá pronto. Tem asfalto na frente. Tudo pronto. Água, luz... Tudo funcionando. Foi uma grande vantagem. E agora eles tão se preparando pra construir o prédio. Tem projetos de engenharia, de arquitetura e tá avançando assim. Muitos consultores... Ana vai organizando. Não sei bem, deve começar em breve, né? É. É interessante que dentro da área tinha uma antiga igreja da região. Uma igrejinha bem pequena, assim.
Ana: – Quando a gente transformou a gente percebeu que tinha ainda a marca do altar. E tinha a marca da porta de entrada. E aí ficamos sabendo que aquilo era uma igreja. Que já foi igreja há mais de 20 anos atrás. E, pra nossa surpresa, a cruz da igreja tá lá. Quando a gente passa, a primeira árvore, ela tá lá. Naquele pé de árvore, há mais de 20 anos, aquela cruz tava ali, né?
Lama: – E ela tem uma ligação emocional com a região, né? Pessoas casaram, batizaram os filhos... A gente resolveu botar aquilo de volta. Arrumar, né?
Ana:  - É.
Lama: - Nós vamos chamar um padre lá.
Então essas eram as nossas conversas, né? Então, tá avançando.

[História da Expansão do CEBB – Curitiba]
E aí o Bruno tinha esse pensamento antigo, assim. Da coordenação lá do CEBB Curitiba. Muitas vezes tínhamos sonhado, tínhamos olhado terras... A gente tinha avançado e daí surgiu essa decisão. Apareceu uma área maravilhosa também.  Eu pensei: “Bá, eu vou pra lá.” Eu sou volúvel, como vocês veem. (risos) Timbaúba também. “Vou pra Timbaúba.” Construí uma casa, depois construí mais uma lá. Vou pra lá. Aí pensei: “Bá, Curitiba... É especial, né?” Nós tamos a 25 km do aeroporto ali. Em rota direta, não passa nem pela cidade. Uma zona preservada, estrada construída por Dom João. Dom Pedro, aliás. E uma zona que se tu segue dá pra descer de bicicleta até Paranaguá. Uma super descida né? Um caminho super especial. Acho que foi duas ou três vezes – a gente foi de bicicleta do CEBB Curitiba até a área lá, dá 35 km. A gente foi e voltou. Super bom. Passando por cidadezinhas pequenas ou indo pela rodovia dá pra chegar lá. Achei aquilo maravilhoso. Uma área que seria 85 hectares, né? Era 90, virou 85. Agora vai virar 80. E fonte d´água... Viu paulistanos e cariocas e mineiros? Bastante água. Maravilhoso. Fica junto daquele morro que... Anhangava. Fica na divisa do parque. Então, um lugar super bonito, um bosque denso, com áreas planas gramadas (risos) para o bem ou para o mal, né? Lugares super bonitos, como bosques de eucaliptos também. Dá pra construir depois dentro, né? Utilizar madeira e tudo. Uma estrada de asfalto na frente. Muito bom. Muito bom. Harmonizado. A vizinhança toda entendendo o que nós tamos fazendo. Dando apoio. A primeira sanga fora de Porto Alegre foi Curitiba, né? É muito antiga. Tá consolidada lá há anos, né? As pessoas tem uma maturidade sobre o que estão fazendo. Então, muito bom.

[História da Expansão do CEBB – Florianópolis]
Antes disso, Canelinha, né? Pouco antes de... Onde é que tá o Rossano? Ali. Aí, um pouco antes da terra de Curitiba, a sanga também de Florianópolis, uma sanga antiga, né? Madura também, né? Ainda que passe por várias coisas assim... (risos) Várias fases, né? (risos) Mas é uma sanga consolidada, com várias cidades no interior também. Com práticas, né? Aí a sanga de Santa Catarina se reuniu, a gente também olhou muitas diferentes áreas até que a gente se decidiu por aquela. Nesse momento, a gente tá com o templo praticamente... Quer dizer, ele tá com as paredes e o piso. Falta o teto. Mas isso não é um grande problema, né? Na verdade já tá tudo projetado direitinho, eles vão no final de fevereiro começar a obra. É isso, né? É. Pra colocar aquilo é uma coisa rápida. É rápido. Então, em maio deve ter a inauguração, né? 320 metros, não é isso? Ou seja, eles resolveram fazer maior que aqui, assim. Eu não sei se tem algum tipo de problema, assim. (risos) Aí cada um tenta fazer um pouco maior. E eles, secretamente, pensam: “Então, vamos levar o Alan Wallace pra lá.” (risos) É assim. Aquilo, a motivação é mais ou menos, né? (risos) Então, depois, Curitiba...

[História da Expansão do CEBB – Viamão hoje]
Aí, eu tava realmente pensando assim: “Vou pra Alto Paraíso. Tô me organizando, potencializando a escola, aquilo dá pra ir, né? Eu acho que eu vou, né?” Mas aí tive uma recaída. (risos) Aí eu pensei: “Não, muito trabalho... Leva muito tempo, nem foi trabalho.” Trabalho nem é o ponto. Leva muito tempo até uma sanga se consolidar num local. Até que o local físico começa realmente a funcionar, assim. Aqui nós temos vários tutores morando, uma sanga grande. O problema que eu vi aqui é que nós não temos área de retiro. É muito ruído aqui. Aqui tá ficando um local urbano, né? Não só na redondeza como aqui dentro também, né? Então, tem muito movimento. Eu também percebi assim: Um local com as famílias é super bom, mas é um pouco perturbador pros praticantes que vêm. Homens e mulheres, né? Porque tem uma capilaridade rápida, assim... As pessoas chegam e tem sempre alguém simpático. (risos) Aí, eles mudam de ideia. (risos) Eles tão com ideias super profundas e aí aquilo – plum – abrem-se portais, assim ,floridos e perfumados, né? E a felicidade – plum – surge assim... (risos) Aquilo é invariável. Depois de perder uns 4 ou 5 praticantes assim, eu pensei... (risos) Bom, isso é um problemas que nós temos aqui. Mas teve um praticante que teve lucidez. Ele – antes de ter um problema maior – ele disse: “Lama, tô indo embora.” (risos) Ele  veio aqui pra fazer prática e fazer retiro, mas aí ele pensou: “Não vai dar certo. Aqui eu tô oscilando. Vou é embora.” (risos) Mas, sabe como é – muita felicidade ao redor, né? Aí ele foi embora. Aí eu pensei: “Nós vamos precisar fazer algumas coisas, assim...” (risos) Aí comecei a procurar uma área pra retiros. Aqui próximo. Inicialmente na zona da... Mais pro litoral. Porque tem uma região muito ampla selvagem. Litoral. Eu acho aquela região super interessante por quê? Porque ela é uma faixa estreita de areia. Não tem nada ali. Não tendo nada, não tem atividade econômica, entende? Ali eles plantam arroz e fazem silvicultura, né? Plantam árvores. Então não tem impacto, não tem densidade populacional, não tem futuro de densidade populacional ali. Aquilo não vai a lugar nenhum. Então, é um bom lugar, assim, né? E aí eu pensei que aquilo era interessante. Aí, tive olhando e vi que o preço da terra ali era menor que em Timbaúba. Menor do que no Nordeste. Bem menor. Aqui é ótimo. Além do mais, dava pra sair pedalando daqui e chegar lá. Pensei: Isso é uma boa coisa. Aí continuei olhando as terras...
(Interrupção na transmissão desde 45 até 48 minutos.)
Tem um nobreak aqui só pro sistema de som, né? (risos) Então vamos indo. (risos)

[História da Expansão do CEBB – Amazônia]
Outra pessoa fala: - A gente tem o CEBB que a gente tá começando lá da Amazônia, já faz um ano, com as bênçãos do Lama. É um lugar, terra búdica na Amazônia nossa, né? Pros paulistanos, tem muita água lá também, assim. (risos) É muito pequenininho, muito bonitinho – digamos assim, mas é imerso em plena floresta, no rio Negro. Dá 200 kilômetros de Manaus.  A gente tá com esse movimento lá. Já tem um pequeno temploca, que é um sincretismo entre oca e templo, porque já tinha uma oca antes. Porque o rio Negro era muito povoado antes da chegada dos Portugueses, então aquele local já era uma terra indígena. Pro nosso CEBB, então, é maravilhoso, porque já tem uma terra preta. Porque a terra preta é... Nela pode ser feita agricultura – e também é raro isso lá. E vai ser um local – como eu disse pro Lama – um lugar perfeito pra gente sentar e meditar, imerso na natureza. E é isso, a gente já tá há um ano, tá terminando. Já tem um pequeno alojamento. Já tem a casa do Lama, quase pronta. (risos) E um refeitório, mas super pequeno, super bonitinho.
Lama: - Que área tem lá?
Outra pessoa: - Então, a gente também tá da mesma maneira que nem tá em Alto Paraíso, a gente tá na frente do parque nacional de... A gente tá no meio, entre dois parques lindos, que é o Parque Nacional de Anavilhanas e o Parque Nacional do Jaú. Então, nosso quintal, assim, é enorme.
Lama: - Maravilhoso.
Outra pessoa: - Mas a nossa área mesmo, ela tem 20 hectares. Dentro de uma APA. É um lugar lindo. Acho que o Lama divulgou pra vocês o vídeo dos botos. Aquilo ali é na nossa frente, assim, ali. A gente pode fazer isso...
Lama: - Super lindo ver isso. A gente chega pelo rio Negro, a porta de entrada é a praia. Aí tem as bandeiras de oração, tu encosta o barco e entra. Super lindo aquilo. Maravilhoso.
Outra pessoa: - É isso mesmo. É um movimento lindo. Acho que pra conservar a biosfera, como o Lama disse, nada melhor do que sentar pra meditar imerso na natureza, porque a gente começa a conservar naturalmente.
 Lama: - Achei interessante também a amizade deles com os grupos nativos de lá, né? Interessante isso.
Outra pessoa: - É, a gente tem um bom contato, porque eu já tô na Amazônia agora há um ano, morando direto, mas eu já tô lá desde 2002. Então, eu tenho uma proximidade lá com algumas etnias e hoje eu comentei com o Lama a visão de mundo deles. Eles olham pra gente e eles não entendem a gente. “Porque vocês tâo fazendo tudo isso?” Não dá pra entender.
Lama: - E a gente também não entende. (risos)
Outra pessoa: - Exatamente. E muitos se isolam mesmo. Não querem contato nenhum com branco – o que gera mais preconceito do nosso lado. Mas é uma maneira muito fantástica de ver o mundo, né? E a gente tá tentando descobrir também um pouco a visão de mundo deles. Porque como eles não nos entendem, eles não compartilham também com todo mundo assim. É muito interessante. E é isso. Em breve a gente vai esperar o Lama ir lá pra inaugurar, dar todas as bençãos pra pulsar mesmo... E a gente começa a receber os praticantes que querem sentar na Amazônia e praticar, junto. Vão ser todos muito bem-vindos. Muita paz e amor. É isso.
Lama: - Que bom, obrigado.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos em Viamão]
Então tem isso, né? Agora, bem recentemente a gente também tá conversando numa área – de novo essa faixa aqui do litoral, né? Então, é provável que a gente vá também expandir o CEBB nessa direção pra gente ter – eu imaginei assim – uma área em que as famílias pudessem ir também, né? Nas férias da escola das famílias daqui, assim. E – eu vejo – as crianças, elas se beneficiam muito aqui. Então eu pensei: “Vou comprar uma pequena área ali” e tem essa nossa amiga que, enfim, é corretora que ficou nossa amiga, né? Aí ela nos levou na casa dela. Ali bem próximo da casa dela tem a lagoa do Bacupari, que é uma lagoa tépida. Tem uma boa extensão, assim. Um lugar selvagem. Aí dá pra contornar a lagoa, todo o local selvagem e chegar na faixa entre a lagoa e o mar, também aquilo tudo selvagem. Super bonito. Mesmo pra praticantes é interessante, assim. Tipo, pegar uma mochila e ir pras áreas selvagens, depois ir caminhando tipo andarilho... Tem uma vasta região assim, que dá pra andar. Sem encontrar gente. Então achei um lugar bem interessante. Pras crianças, é uma água rasa que vai afundando lentamente. No fim ela fica funda, mas eu vejo, assim, pras crianças, muito bom aquilo, né? Dá pra fazer excursão, fazer trilha até o mato, né?  Então a gente tá olhando, é uma área de 4 hectares e meio que tá ali, né? Então, a minha ideia nessa região também era ter como se fosse... como um CEBB, né? Do mesmo modo, assim. As pessoas podem construir suas casas, né? Esse seria um CEBB mais aberto ali, complementar ao nosso CEBB daqui, né? Eu acho também que seria interessante se tivesse um número de pessoas interessadas, né? A gente expandir a nossa área aqui também. Eu acho que era a última coisa que a gente ainda precisava fazer pra potencializar o caminho do meio. Porque nós tamos com uma área de... Nós começamos com 4 hectares e meio aqui. Depois nós ampliamos, nós fomos pra 10. Esses 10 foi assim: os 4 e meio não era 4 e meio, era 5. Quando a gente mediu, tinha 5 hectares. Então a gente passou de 4 e meio pra 5 , né? E aí a gente comprou uma área de 5, que é daquela cerca da escola pra lá, tem uma faixa de 5 hectares. A gente adquiriu aqui. E depois a gente comprou uma faixa de 2 hectares do vizinho aqui do lado que faleceu e a família vendeu pra nós. Essa faixa de 2 hectares é super bonita e tem um bosque que vai até o rio e atravessa o arroio - o riacho - lá embaixo, né? Atravessa, assim. Então tem um campo de cultura que é possível usar. Nesse momento, aquilo tá... O bosque tá vindo, assim, né? Denso, por toda a área. E eu pensei que a gente poderia fazer áreas de retiro lá pra baixo. Mas eu acho que o melhor, realmente, aqui... Porque tá tremendo muito essa região. Tem uma urbanização aqui em tudo ao redor, né? Melhor essa área de retiro mais longe. Então, esses 180 hectares eu tô imaginando fazer pra retiro. Depois eu vou explicar pra vocês os vários níveis e como é que vai funcionar isso. Mas tem esses 2 hectares e meio que fica... Curiosamente, tem uma estrada lá em Josafá (?),  Jatavana, tem uma estrada que corta a terra – deixa 2 hectares e meio de um lado e os 180 hectares de outro lado. Então, 180 é retiro e nesses 2 e meio a gente faz uma pequena aldeia. Pra apoiar a área de retiro. Então, algumas pessoas tinham esse sonho que a gente comprasse aqui do lado. É caro, né? Porque é praticamente terreno urbano, assim. 4 hectares que tem aqui do lado. A gente precisaria de 20 pessoas firmes, assim, pra... Que elas queiram se localizar, aí a gente consegue comprar. Então, isso vai depender... O CEBB nunca tem caixa. Pra isso, né? Não tem caixa. Mas a gente faz um projeto, se as pessoas acham aquilo interessante, a gente começa. O Macarine (?) sempre pensava isso. Eu tava indo com o freio de mão puxado, porque eu não queria isso. Mas por quê? Porque eu não queria aumentar muito o CEBB aqui. A gente não precisa fazer um grande CEBB num lugar. A gente pode expandir em outras regiões. Não precisa expandir sempre no mesmo lugar. Mas eu to achando que pode ser interessante. Aliás, tá subindo aqui agora... Pra paulista, especialmente. (risos) Aí eu imaginei que se a gente conseguisse comprar aqui do lado, a gente poderia fazer um grande centro de eventos. Pra 800 ou 1000 pessoas, assim. Faz uma construção mais barata, não faz um templo. Faz um centro de eventos. Que apoia a escola, apoia... A gente tem múltiplas atividades culturais. E quando vem eventos grandes a gente pode fazer com conforto ali dentro, direito, assim. Acho que isso pode ser importante pro CEBB. Acho que o CEBB hoje tem um nível de responsabilidade dentro do Brasil, também, assim. De potencializar os eventos, a vinda dos mestres, facilitar isso. Então, se a gente tem uma boa área pra recebê-los, isso é bom. Acho que é uma boa coisa assim.

[História da Expansão do CEBB – Escolas]
E, então, é o que tá fluindo assim em termos dos aspectos grosseiros, né? Prédios, áreas, planos a nível denso, né?
Também as escolas, né? A gente, nesse momento, tá construindo em Alto Paraíso. A gente tem sido beneficiado pela generosidade de pessoas especiais dentro da sanga, né? Então, a escola de Alto Paraíso vem porque teve uma pessoa da sanga que resolveu aportar recursos e a gente conseguiu construir, né? A gente construiu 6 salas e isso dá pra – com turno e contraturno – dá pra ir até o final do segundo grau. É uma boa coisa. Construído tudo em tijolo de adobe. Uma coisa direita assim, bonita, né?
E aqui [Viamão] também, a gente tá construindo. Vocês tão vendo, né? A gente construiu 3 salas, agora a gente construiu mais 3. Pelo mesmo raciocínio, com turno e contraturno, nós vamos até o final do segundo grau. Super bom.
Em Alto Paraíso, a escola tá na parte mais alta do terreno, assim, uma vista, assim, pra todo parque. Tem como se fosse um vale de grandes montanhas, assim. A gente vê. Super bonito. E ainda o Morro da Conceição do lado. Grande morro, né, do lado. Então, lá é muito bom, né? Pras crianças, pra todo mundo. A gente tem asfalto até a 300 metros da área do CEBB. Asfalto e ciclovia. Tem uma ciclovia de 36 quilômetros que vai de Alto Paraíso até São Jorge. Em São Jorge, um pouco adiante, tem lagos de água quente. É super bonito. Especial, assim.
Agora, aqui no Rio Grande do Sul tem esse vento do inverno, assim. Tem a névoa. Aqui é muito bom, aqui. Dói até os ossos. (risos) Pra praticante é uma coisa especial, né? Vejo o mar aqui também... O pessoal do Nordeste não entende o que que é o nosso mar. (risos) Eles tão acostumados com água quente, né? Agora, vocês entrem aqui no mar, aqui no Sul, né? Uma cor de chumbo. (risos) Aí a pessoa entrou, aquilo dá uma energia, o olho brilha, aquela luminosidade, direto. A pessoa quase atinge a iluminação. É maravilhoso. Aquelas águas lá, Tamandaré, Porto de Galinhas, um azul verde, né? Clarinho, assim... (risos) Não tem graça nenhuma, né? Quentinho. Calor eu já passo em casa (risos), quero é água assim, que parece que você vai morrer, que vai parar a respiração. (risos) Aquilo é que é. Então, ele vai achar aquilo maravilhoso.
Aí, quando ele vier agora pra Brasília, vamos fazer essa coisa acontecer, né? (risos) Aí tem que levar ele a Alto Paraíso, com certeza. Já pensou? Aí, eles vão dizer – Ah, mais um mestre. Tá cheio de mestre lá. (risos) Aí eles vão achar uma maravilha aquilo. Tinha que levar ele lá. Lá tem um campo de pouso na nossa área, assim. É incrível isso. Se ele for num avião pequeno ele desce... Ele desce na... Não me deixem mentir sozinho. (risos) Tem o campo de pouso ali do hotel que Fica do lado da nossa área. É uma pista de pouso do hotel. Tamos avançando. (risos) Acho que eu vou pra Alto Paraíso. Tô mudando de ideia agora. (risos) (Alguém fala algo - inaudível) É, essa é uma vantagem. É. Brasília é interessante. Mas eu acho que aqui é o mio do Mercosul todo, entende? (risos) (Alguém fala algo - inaudível) Você é suspeita pra dizer isso, né? Então, o orador é do Brasil? Então eu acho, assim, maravilhoso a gente poder construir os prédios, instalar a área, né? São um pouco apertados aqui. A escola tá um pouco apertada, o espaço físico, assim. Mas ela tá dentro de uma área que as crianças podem usufruir. É como se tudo fosse terreno da escola, né? As crianças andam por tudo. Então, isso é uma boa coisa, assim. E a gente tá nesse período ainda heroico, né? Tanto em Alto Paraíso quanto aqui, consolidando a equipe, né? Melhorando e definindo bem o funcionamento. Então, lá e, Alto Paraíso, aliás, a gente vai fazer a experiência esse ano de pedagogia de projetos. E aqui nós seguimos no método que a gente já vem andando, né? Tem uma ligação direta com o Darma. Então, a gente tá avançando. Esses são os processos, né? Quem quiser participar de algum modo dessa ideia aqui do lado fale com a Stela também. Se a gente tiver esses nomes firmes, é uma coisa que pode acontecer. Também a área do Bacupari, da lagoa do Bacupari, aqui na praia, né? Vocês falem com a Stela. A área do Jatavana lá na montanha também. Falem com a Stela. (risos) A Stela, quando chegou aqui ela era... Tá cada vez mais magrinha, sumindo, assim, fazer o quê? E quem quiser na área de... Canelinha não tem mais espaço, né? Tem do lado. Deem o nome pro Rossano. Tem uma área de 30 hectares do lado, né? (Alguém fala algo - inaudível) É. Lá é maravilhoso. A natureza super linda lá. Mas lá não tem mais espaço né? Áreas do lado, né? Tu conseguiste falar lá com o pessoal do hospital aqui? (Alguém fala algo - inaudível) É. Uau, isso é bom. Porque tem uma área do lado que era de uma pessoa de fora do país, né? E a pessoa adoeceu, aí teve uma despesa muita alta pro hospital e perdeu a área pro hospital. Mas o hospital não tem vocação pra se manter ali, né? Então, nós tamos na área. Talvez eles tenham interesse de trocar conosco de algum modo, assim. (Alguém fala algo - inaudível) É, isso. Tem a área da frente. É. É a fonte da água. Interessante.

[História da Expansão do CEBB – a sanga e o círculo]
Vocês veem – aquilo vai andando, assim, né? Eu acho interessante – já dá pra ver – ainda num tempo curto, né? – a sanga é - como eu tava falando ontem – o círculo, né? O círculo não envelhece. As pessoas entram e saem do círculo, mas o círculo mesmo ele tá existindo.  Então, o CEBB ele funciona assim, né? Ele não tem idade. Mas tudo que acontece em volta tá afetado pela impermanência, né? Então as pessoas mudam os seus interesses, suas coisas, aí o CEBB pode sempre se expandir assim. Naturalmente, ele é sempre um vizinho em expansão, né? Interessante. Aí, se a área lá do Recôncavo puder expandir é uma boa coisa. (Alguém fala algo - inaudível) Muito bom.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: retiros longos fechados]
Então, eu queria falar um pouco pra vocês também dessa nossa experiência dos retiros longos, né? Como é que essa coisa foi avançando, né? Então, eu acho que a gente tá chegando a uma formulação circular. Eu gosto desse processo circular, assim, sabe? Eu vou explicar o que significa essa formulação circular. É o fato de que a pessoa tá no retiro mas ela rotacional um pouco de modalidade dentro do retiro. Então a experiência que a gente foi tendo lá é que, por exemplo, a gente começou com as pessoas no retiro fechado o mais isolado possível, né? Mas elas tão em grupo. Então, esse processo, ele exige que tenha alguém fora poiando eles. Esse processo ele é um pouquinho complexo, porque quem tá do lado de fora às vezes oscila, né? Então, a gente teve uma troca das pessoas que tão do lado de fora apoiando. E então um outro aspecto que surgiu é que - como eles tão em retiro em grupo – às vezes, eles aspiram tar em períodos mais fechados. Também surgiu a necessidade de alguns estudarem durante o retiro. É como se eles... De repente, surgem temas que eles sentem que tem que aprofundar pra desobstruir o próprio andar do retiro. Então, foi surgindo esse tipo de demanda. Então eu pensei assim – seria bom a gente ter uma área coletiva – que eles tão no retiro fechado. Mas, seria bom ter cabanas isoladas – que eles podem sair da área fechada e entrar numa modalidade fechada fechada por 3 meses ou 6 meses. Uma coisa assim. 2 meses. Então, aquilo potencializa a atividade deles. Estão super bem. Estão focados. Mas aí o fato de que – mesmo dentro do retiro – eles se levantam em certos horários e vão pra cozinha e um se move ou fala com o outro. Aquilo quebra um pouco. Então eles sentem a necessidade de estarem isolados isolados. Naturalmente, o fato de que eles voltam e se encontram nesse grupo de retiro – isso também equilibra. Porque às vezes as pessoas podem entrar num aspecto particular, ficar presos em alguma coisa, e sempre tem um amigo pra dar uma puxadinha, assim, né? “Você comeu?” “Você foi no banheiro?” “Você tá bem?” E aí esse grupo ele também, ele garante uma sanidade, assim. Melhora, né? Então isso é uma coisa boa, assim. Às vezes a pessoa também não tá bem de saúde ou ela tem alguma coisa e o grupo ajuda né? Então, por vezes, surgem dúvidas relacionadas ao próprio ensinamento. Então tem um ou outro que conversa com um ou outro sobre isso. Então me pareceu interessante esse processo, assim. A gente usar os 2 processos. A gente ter o grupo em retiro, numa sala e ter as salas isoladas. Aí o grupo em retiro cozinha. As salas isoladas não cozinham. Então a comida sai do grupo em retiro e é colocada num lugar. Quem tá isolado vai até aquele lugar, num outro momento, e pega a comida. Então, não tem contato visual, não tem contato humano propriamente. Naturalmente, a gente pode deixar recado, mas fica um retiro fechado fechado. Então, essa modalidade, ela é interessante. Eu pedi que no fechado fechado as pessoas não levassem nem os textos da sadana, porque elas tão fazendo todo dia – elas tem aquilo memorizado. Então elas vão pro retiro – elas ficam sem nada, né? Naturalmente sem celular, sem foto, sem internet, sem livros, sem anotações. Elas tão elas com o céu, com o ambiente, assim. Elas vão ter que ler nas aparências das coisas. Então isso é uma boa forma de fazer retiro por um tempo. Mas, por outro lado, como vocês tem visto, né? A gente tem ouvido também sobre isso e também a nossa experiência. O que acontece é que, às vezes, num retiro muito isolado, a pessoa pega um aspecto... É como se ela entra num sonho e aquilo não se desfaz. E , às vezes, aqueles sonhos são favoráveis e , às vezes, não são favoráveis. Então, a pessoa começa a passar mal. Então é super importante que ela tenha a possibilidade de voltar periodicamente ao grupo e se encontrar e aquilo vai se equilibrando de novo. Então tem essa modalidade – o fechado em grupo e o fechado fechado, individual. Então tô imaginando fazer isso também aqui no Jatavana, né?

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: retiros semiabertos]
Aí tem o retiro semiaberto. E talvez ele seja o coração de tudo. O coração de tudo não é propriamente o retiro fechado, mas eu acredito que é o retiro semiaberto, sabe? No retiro semiaberto a pessoa tá em retiro. Por exemplo, dentro da área do Jatavana – é um outro espaço físico. Ela tá em retiro. Só que ali ela tá meditando mas ela tá estudando. E ela tá estudando, ela tem programas de estudo com as outras pessoas que tão em retiro semiaberto. Eles tão focados. Ele não tão tirando fotografia e botando no facebook, não tão namorando... Aliás, namoro – proibido. Então, eles tão dentro desse formato semiaberto. Mas semiaberto por quê? Por exemplo, dali os tutores podem fazer contato com seus tutorados em diferentes regiões, podem fazer contatos que tenham sentido em relação aos estudos, né? Podem manter algum nível de correspondência com o exterior, mas no tema do que eles tão fazendo. Então, eles podem operar em rede dentro do Brasil e fora. Mas eles... O foco 100 porcento é a atividade de estudo e meditação.
Então, esse semiaberto, ele também tem duas modalidade, né? Uma mais fechada e uma mais aberta. Aí tem o aberto do semiaberto. O aberto do semiaberto é assim – é necessário alguém pra cuidar daquilo. Então, quem tá no aberto do semiaberto estuda, medita, mantém o foco – tá em retiro - mas faz... Conserta a luz, faz a coisa funcionar quando dá algum problema. Cuida da manutenção, do funcionamento das coisas. O aspecto de hardware. Faz os contatos, mantém a contabilidade operando, recebe as contribuições, sabe como fazer aquilo funcionar, assim. É necessário ter alguém que faça isso. E essa pessoa que tá nesse nível de retiro, mais na parte aberta desse retiro, a pessoa também pode sair pra fazer compras. A pessoa sai e volta. Ela não sai pra ir ao cinema. Ela sai pra fazer compras, fazer esse funcionamento.
Aí tem 4 modalidades, né? Tem o semiaberto com duas e o fechado com duas. Aí tem uma modalidade aberta, que não é retiro. Mas ela pode conviver, pode entra na sala do semiaberto. Mas esse aberto é assim – a pessoa tá ali pra cuidar de tudo. Ela cuida das fronteiras, ela fala com os outros, ela interage com o mundo externo. Em qualquer nível que precise – ela contrata pedreiros, ela contrata manutenção, ela cuida da rede elétrica, ela tá fazendo esse funcionamento. Tendo essa supervisão. É necessário. Então, nesse momento lá no Jatavana nós temos uma área pro aberto. Então, nós precisamos construir aos outras áreas – pro semiaberto e pro fechado. Então nós vamos começar com o fechado. O semiaberto vem depois.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: retiros semiabertos – centros de formação de tutores e facilitadores]
Mas eu considero que o semiaberto é super importante. Eu tô pensando no semiaberto como o local onde os tutores e facilitadores vem pra fazer formação. Porque eles encontram um grupo que tá só estudando e meditando, estudando e meditando, estudando e meditando. E aí eles passam ali por dentro e se beneficiam. Esses que tão no semiaberto – eu imagino que os tutores também passam por períodos ali – eles estudam, meditam, estudam, meditam, clarificam aspectos dos ensinamentos, depois eles passam pelos vários CEBBs e levam aquilo, né? Assim, então a gente mantém um centro de aprofundamento. Onde a gente faz essas visitas periódicas, né? Trabalho em rede. Nós tamos muito perto disso. Isso, na verdade, tá pulsando espaço, né? A gente vai ver se esse fato de que a gente tem um espaço físico pra isso potencializa de fato. Porque esse funcionamento ele tá indo um pouco assim, mas se a gente colocar num espaço físico, acho que vai ser uma coisa boa. A gente tá ali desse modo. Então, dali também os tutores podem cuidar dos facilitadores, cuidar dos seus tutorados, né? Eles podem também viajar – eles tem um funcionamento econômico – pagam as suas contas também – que são baixíssimas, as contas, né? Porque esse funcionamento de retiro é uma coisa de baixo impacto econômico. E aí a pessoa acelera a sua prática, a sua realização e o contato com os outros. Dali, do semiaberto, a pessoa também parte prum fechado, né? Periodicamente ela passa por um fechado. Também a ideia é que a gente rotacionasse isso. A pessoa faz um pouco de fechado, faz um pouco de fechado fechado, faz um pouco de semiaberto e também faz um pouco de manutenção – vai pro aberto e faz compras, faz coisas. Eu acho importante esse encontro, assim, a pessoa tá meditando, tá super isolada e de repente ela volta, ela encontra o mundo. Ela vê como as coisas tão desajeitadas, né? Como as pessoas precisam de ajuda. Ela percebe que ela não tem como ajudar. Considero muito importante a gente ter a compaixão e a compreensão de que a gente não tem como ajudar. Aí, quando a gente volta pra estudar, aquilo tá mais claro. A motivação fica mais nítida, assim.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos : retiros semiabertos – centros de documentação]
E também no semiaberto eu tô imaginando a gente fazer um centro de documentação. Ou seja, comprar todos os textos, todos os livros que a gente puder. E nós vamos guardando aquilo. Guardando de uma forma digna, arrumada, direita, catalogada. Por quê? Porque os textos que hoje estão disponíveis pode ser que amanhã não tejam. Eu já vi a dificuldade de conseguir o Salistamba Sutra, né? Que é a Bia conseguiu, né? Mas eu entrei na amazona e aquilo custava 900 dólares, usado. São textos que tão ficando raros, né? Então, é natural que textos do Darma, eles sejam publicados por uma tiragem pequena. Como o Vítor tá fazendo agora, né Vítor? (editora Lúcida Letra) Tiragens pequenas. Por quê? Porque não são todas as pessoas da própria sanga que vão adquirir esses livros. Depois que elas comprarem, comprou. A gente não pode imaginar que no ano seguinte vai ter mais 500, depois mais 500, depois mais 500... Pode ser que sim e pode ser que não. Então, isso não é um fenômeno brasileiro, isso é um fenômeno amplo. Pra vocês terem uma ideia, esse texto que é de Trungpa Rinpoche, que é o “Além do materialismo espiritual” é um texto que tava esgotado há muitos anos. Eu acho que tu vai publicar, não é isso? Sim. Mas tava esgotado há um longo tempo. Então, como é que um texto de Trungpa super lido como o “Além do materialismo espiritual” tá esgotado? Então, vocês veem como essas coisas elas podem ficar problemáticas. Eu acho que é super importante – os livros são baratos. É muito fácil a gente ter um lugar consolidado, associado a retiros, onde nós temos uma vasta biblioteca, assim, um centro de documentação. Isso é super importante.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: estupas em CEBBs rurais]
E também eu tô aspirando que a gente consiga construir estupas nesses vários CEBBs rurais. Construir estupas bem feitas, bem arrumadas, com todos os processos tradicionais de como construir uma estupa, né? Não sei qual é que vai ser a primeira mas eu visualizo aqui no Jatavana, imediatamente. Num vale, assim. Uma estupa grande, já irradiando praquele canyon, assim. Isso é super importante. Esses lugares eles ficam magnetizados, né? Eles já são magnéticos. Eles ficam magnetizados pelas bênçãos da estupa. Acho que a gente deveria ter isso. Mas nós tamos indo, né? Vai ter a estupa da Amazônia, né? (risos) Quase isso. Aí esses lugares eles vão fluir as bênçãos, né? Eles são como chacras. Vão fluindo as bênçãos. É super bom. Acho que nós tamos no tempo de fazer isso, né? Acho que a gente não deveria ter feito antes. Eu já vi também estupas serem construídas e as pessoas não conseguirem cuidar delas. Aquilo vira um problema. Do mesmo modo salas de meditação ou templos construídos que não tem a força da sanga. Aquilo tinha um... Uma força financeira construiu. Aí depois tem um problema o redor. Ou seja, a gente tá num tempo de consolidação, aí a estupa é bem-vinda. Essas coisas são bem-vindas assim. Então, nós vamos avançando.

[História da Expansão do CEBB – Consolidação da sanga e estudo das línguas]
E no que diz respeito à formação da sanga, né? Então, essa consolidação também. Eu acredito que esses centros de retiro, eles vão nos ajudar a avançar mais em consolidação. Eu tenho a aspiração que alguns avancem também nos estudos das línguas, né? Do Tibetano e tudo. Que a gente consiga não só ir traduzindo do Inglês, mas que a gente consiga especialmente meditar, meditar em retiro, também, avançar nisso mais. Começar a clarificar certas expressões, assim, a gente poder – nas traduções – acessar as línguas originais e clarificar isso, né? Agora, bem recentemente, nós távamos olhando os 6 selos... Então, às vezes, a gente localiza isso. A própria tradução em Inglês, ela talvez tenha uma imprecisão. Então tava olhando ali, por exemplo, a grande bem aventurança... “Vamos selar a grande bem aventurança com a ausência de pensamentos.” “Ausência de pensamentos” – aquilo é uma coisa limitada. Aquilo não é ausência de pensamentos. Aí eu pensei – vamos clarificar o termo em Tibetano pra isso. A gente precisa clarificar aquilo. Qual é o termo Tibetano – a gente precisa do texto. O Gi conseguiu, falou com o tradutor, o tradutor mandou o texto, né? Foi uma boa conexão pra nós. Agora a gente tem uma boa conexão com o tradutor do Tibetano pro Inglês, né? Como – acho que é o Erick Pewan (?), né? Como ele é um bom tradutor, né? A gente vê – tanto faz traduzir do Tibetano pro Inglês ou traduzir do Tibetano pro Português. Porque se a gente clarifica o sentido daquilo a gente encontra a palavra depois em Português. A questão toda é como clarificar o significado da expressão, né? Então, ele trouxe uma clarificação daquilo. Ele escolheu non-thought, não-pensamento. Eu acho que não é uma boa escolha. Mas tudo bem, ele clarificou o significado, a gente... Eu acho que era bom botar entre parênteses a expressão em Tibetano, botar um pé de página ou comentário, né? Por favor, um microfone aqui pra Bia.
(Bia) – Com a tradução que a gente usa em Português: refúgio. Porque o refúgio cabe bem pro Inglês porque eles não tem uma expressão (refuge). Mas o kab (?)  é kabdro (?) em tibetano. Jo (?)é “vou para” ou “tomo”, o que a gente pode tomar. Okiab (?) quer dizer proteção, né? Mas protege do quê? Pro indivíduo não cair nos reinos inferiores. Então quer dizer – ele ampara – o refúgio. Quando você se ampara no Buda, ele protege você de não cair nos reinos inferiores. Tanto é que quando a gente toma o refúgio, se diz que, nas vidas futuras, a pessoa que tomou refúgio não cai mais nos reinos inferiores. Mas, assim, se cai é vapt vupt. (risos) Eu acho assim – o Português tem essa palavra tão bonita – amparo – me amparo no Buda, me amparo na Darma, me amparo na sanga. Eu acho que, como o Lama disse, agora, como o budismo praticamente é novo no Brasil, então é tempo ainda de fazer essas correções, assim, sabendo a raiz da palavra.
(Lama) – Interessante. Aí, vocês tão vendo um exemplo disso. Super importante começar a estudar e a aprofundar os vários significados diretamente, assim. Interessante. Eu acho que a Bia veio num bom tempo pra cá, né? A gente não sabe bem o que vai acontecer, né? Mas a gente fica de olho na Bia pra ver o que que a gente consegue fazer. Aí eu tô descrevendo essa coisa do centro de estudos aqui, né? Mas eu fico pensando em ti, assim. Que periodicamente tu possa vir nos ajudar. Então a gente tá indo. Aí tem uma praticante agora que resolveu dar um salto, estudar isso. Vamos ver o que vai acontecer. Se vai mesmo ou se não vai, né? Mas isso é super importante. Porque vai potencializando essa clarificação desse significado.
Eu acho bonito, sabe? Na sanga a gente poder apoiar os vários movimentos. As pessoas querem tar em retiro fechado fechado – tem lugar. Quer levar as crianças pra melhorar a saúde, pra correr, pra caminhar, pra acampar – tem lugar. Tem lugar pra escola, tem...

[História da Expansão do CEBB – Configuração atual]
Aqui, por exemplo, isso não tava planejado, né? Foi uma iniciativa das próprias mulheres, que vieram morar aqui, né? Mas surgiu essa habilidade. Já nasceram cinco crianças aqui na área. Não é em hospital, nasceram aqui dentro. Eu acho isso maravilhoso. Esse movimento, por exemplo, das mulheres em círculo, das mulheres e das famílias se ajudando, das crianças de um um modo e de outro, né? Super maravilhoso. Super bonito. São coisas que a gente não pensou – agora vamos organizar isso. Não, isso surgiu, assim.
Uma das coisas que a gente pensou várias vezes e não conseguiu é manter uma horta que pudesse atender a cozinha, né? Eu acho isso um pouco vergonhoso, não devia tar falando, assim. Nós tamos com esse problema. Agora, essa área aqui próxima, né? Em direção ao litoral é uma área que permite cultivo extenso. Pra vocês terem uma ideia, por exemplo, daqui da faixa até depois do arroio, embaixo do riacho, nós atravessamos o riacho e continua no CEBB, aí tem mais uma faixa plana que era onde tinha área de cultivo. Originalmente, antes da gente chegar. Aqui vai até a divisa ali à direita e até as figueiras ali, a escola. Então, essa faixa tem 4 hectares e meio. Então é isso que nós tamos pensando em adquirir aqui nessa região de Vacupari, né? E ali permite cultivo.
Então, a gente tem amigos do lado que tem as máquinas e a gente pode fazer agricultura. Uma agricultura que eventualmente possa atender aqui. Naturalmente, a possibilidade não é suficiente, né? É necessário que tenha pessoas que tenha essa aspiração, que tenha esse foco, que consiga fazer isso, assim. Mas é uma possibilidade. Então, eu penso que esse tema, essa resiliência, né? Ela passa pelo alimento. Com certeza. E pela capacidade de nós mantermos a nossa própria saúde, então, um tipo de vida que mantenha a saúde. Isso é crucial. Então a gente tem feito esses estudos de Pedagogia, de saúde, de meio-ambiente, a gente tem estudado isso. E progressivamente a gente vai conseguindo estabelecer. São as aldeias, né? Aldeias do CEBB.

[História da Expansão do CEBB – Descentralização]
A minha ideia é que cada uma dessas aldeias, ela tenha tudo. Mesmo esses centros de retiro e estudo, eles podem ter. A gente não precisa fazer monopólio – fazer uma coisa numa região e em outra não. Também eu acredito que esse processo que nós tamos usando, que é um processo descentralizado, né? Os vários CEBBs tem denominações próprias e CGC próprio, estatuto próprio, autonomia financeira, eu acho uma grande vantagem. Porque se a impermanência pega um, os outros se salvam. A gente não pode ser atingido e todos são atingidos em bloco, assim. Não, sob o ponto de vista formal nós temos autonomia, assim. Além do mais, nós temos a capacidade de tomar decisões regionalmente. Sem que uma região tenha que ser entendida por outra região pra então permitir que alguma coisa aconteça. Eu acho super importante preservar essa autonomia. Isso vai desenvolvendo uma capacidade de gestão em cada lugar. Não fica um único local que tem capacidade de gestão e os outros ficam assim. Não. É importante desenvolver a capacidade de gestão, responsabilidade, contato com o entorno em cada lugar, né? Então eu acho que nós tamos indo bem. Eu fico feliz, assim. Por enquanto a gente não encontrou nenhum obstáculo maior nessa configuração. Aí nós tamos todos aqui conversando porque num nível sutil não tem separação. Mas no nível grosseiro a gente mantém isso. Então, esse aspecto, por exemplo, do estudo e do aprofundamento e das áreas de retiro qualquer área conseguindo implantar isso, ótimo. Tá perfeito assim. O CEBB – Caminho do Meio, por ser mais antigo, tem mais gente, tem mais capacidade de fazer isso funcionar logo, assim.

[História da Expansão do CEBB – Facilidade dos Satélites]
Vocês observem esse processo, né? Por exemplo, quando Alto Paraíso se instala, né? Como Curitiba também. Vai depender da instalação da comunidade no local, como vai ser. Agora, a área como Jatavana não precisa. Por que? Porque nós já tamos aqui. Aquilo surge como um satélite de Viamão. É Muito mais fácil. Como Bacupari também, surge como um satélite... Nós olhamos tudo por aqui, a gente faz isso funcionar. Não tem problema nenhum. Nas outras áreas precisa esperar que a comunidade apareça, que aquilo se amplie. A comunidade aparece mas eles não tem casa, não tem como se mudar... Aí precisa instalar aquilo, aí tem que puxar a água, distribuir a água, tratar o esgoto, melhorar a escola, melhorar as rotas, leva tempo. No plano sutil tá configurado, mas no plano grosseiro leva tempo.


[História da Expansão do CEBB – Gestão]
Então a gente tá avançando rápido em Alto Paraíso, já tem várias casas construídas. Lá nós tamos usando uma modalidade que tá acelerando, que é... Eu pedi pra um dos praticantes pra construir várias casas pequenas pra poder alugar. Por que? Porque aí ele aluga e as pessoas já conseguem se estabelecer na área. Aí eles começam a construir as suas próprias casas. Caso contrário, a pessoa tá numa outra cidade. Como é que ela vai manter a sua obra funcionando? Não pode se mudar. Então, agora ela já pode se mudar pra casas pequenas daonde já potencializam. E ainda assim nós tamos correndo contra o tempo. Porque a primeira que vai ficar pronta vai ser a do Fernando e da Eliane e eles já tão lá em Alto Paraíso. Pra manter a escola. Então, eles tão numa casa emprestada dentro da cidade pra poder... Vocês veem como é que é, né? Praquilo poder fluir é necessário esse mecanismo todo de ajuste, assim.
E muita demanda a nível de gestão, como vocês podem imaginar, né? Fazer as coisas encaixarem umas nas outras, assim, no espaço, no tempo e nos recursos. Então, essas atividades de gestão, se elas forem operacionalizadas do modo convencional, as pessoas cansam e desistem. Então é muito importante entender as atividades de gestão como prática do Darma, como pratica de compaixão. Se a pessoa não entender isso ela não aguenta. E é necessário que aquilo também... A pessoa logo se defronta com o fato de que ela tem impulsos sobre o que deveria ser feito ou sobre se as pessoas tão achando que aquilo deveria ser assim. Super importante ter as mandalas onde a gente escuta uns aos outros. E fazendo o melhor, assim. A gente se desapega do aspecto dos impulsos pessoais e vai operando. Então, isso é prática espiritual direta. Aí quando nós tamos olhando gestão, vocês não pensem que isso é diferente do processo de purificação do próprio carma, porque não tem lugar onde o carma aflore mais facilmente que na gestão. Aflora, fica vermelho, roxo e explode. (risos) É maravilhoso isso. Aí a pessoa quando explode entra em retiro, meditação, vai tudo girando assim... (risos) Super importante. Então, gestão é assim. Você acha que tá iluminado? Ótimo, então gestão pra você. (risos) A pessoa em uma semana descobre que não tava iluminado. Aí a pessoa tá em gestão, entra em retiro: “Bá, fácil meditar! É só sentar. Que maravilha. Que grande compaixão do Lama que me botou em retiro. Me livrei daquilo. Aquilo é que é prática difícil. Meditar aqui no meio das onças não é nada.” (risos) “Não tem problema nenhum, assim. Bá. Agora, compaixão com aquelas pessoas, aquilo é que era...” (risos) aí nosso carma aparece. Por isso que essa rotação é super importante.
Rotação também entre os CEBBs né, pessoal? Não tá aguentando mais o frio, vai pro calor. Não tá aguentando mais o calor, vai pro frio. Nós vamos girando, assim. Tem umas coisas preocupantes, né? A gente vê. Aqui na escola, as crianças começaram a falar com sotaque nordestino. (risos) Eu achei aquilo mais ou menos, assim, porque (risos) essa rotação também tem limites, né? Aqui é território gaúcho, né? Aí começaram a fazer festa nordestina aqui na escola... Aquilo ficou mais ou menos, assim. Mas tudo bem né?
Mas esse aspecto grosseiro era o que eu queria falar pra vocês, né? Vocês tem alguma pergunta?


( Parei em 01:42 )